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sexta-feira, 12 de março de 2010

Canindé

Por Rodrigo Mercadante

A beleza do Sertão é mesmo peculiar!!!! Hoje nós viajamos o dia inteiro. Deixamos Juazeiro, cidade que eu tanto amo, e seguimos Ceará adentro. Com o objetivo de cortar caminho, 50 km aproximadamente, entramos por uma estrada quase intrasitável. Esburacada, perigosa, mas de uma beleza inexplicável. Já havia estado numa estrada parecida há 2 anos atrás quando, depois de me apresentar em Teotônio Villella, viajei em direção à cidade de Caicó, no sertão do Rio Grande do Norte. Muitas pedras nas encostas, poucos povoados e uma luminosidade comovente, principalmente ao entardecer.
Às vezes, acho que crer em Deus é mais fácil em determinados lugares, em determinadas paisagens. Esse Deus que conforta, se é que ele existe, necessita de horizontes para se revelar. Precisa do infinitamente grande e do infinitamente pequeno, das alvoradas e do Pôr-do-Sol. Ah, como Deus é impossível nas metrópoles! Sem horizontes, sem espaços livres, ele se perde atrás dos prédios, dos relógios, dos vidros escurecidos, se confunde com os anúncios gigantescos e coloridos. Da janela de um ônibus lotado às 6 da tarde, fica difícil entrevê-lo, e nos 20 minutos de almoço, ele nem mesmo tem tempo de se esboçar em uma de suas infinitas formas! Como disse Camille Claudel, "há sempre alguma coisa de ausente que nos atormenta". A cidade só pode ver Deus em sua forma mais terrível, nas tempestades e catástrofes, na natureza em fúria afirmando nossa pequenez e revelando o ridículo do orgulho humano.

...Ai, ai, que bom. Que bom que bom que é. Uma estrada e a lua branca. No sertão de Canindé...

Passamos por Canindé. Lá, uma estátua de São Francisco de Assis, meu santo preferido, proteje a cidade. Fico sabendo que quase um milhão de romeiros passam por lá na época das romarias, que os caminhões Pau-de-Arara (sim, ainda existem e são muitos) transitam enfeitados de fitas e flores e que os romeiros compram sacos de bomboms e espalham-os pela cidade engendrando uma chuva de chocolate e açúcar atirados da janela dos ônibus em sinal de gratidão. Achei tão comovente!
Chegamos a Sobral. A cidade é impecável. Avenidas largas e limpas, casarões antigos, um povo orgulhoso de sua terra e um teatro de mais de 200 anos onde nos apresentaremos amanhã.

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