Páginas

segunda-feira, 29 de março de 2010

Debate sobre Patativa do Assaré e sobre o Caldeirão da Santa Cruz do Deserto







Amigos queridos
Renato Dantas - Secretário de Cultura do Crato, ator
Mano Granjeiro - Ator, diretor do SESC Juazeiro
Seu Edésio - Escritor, Cordelista

Crato

por Rodrigo Mercadante

Meu amado Crato
Meu cratinho de açucar....
Que coisa linda poder dizer assim a própria terra!
As pessoas do Crato são doces....
Um aconchego metafísico me envolve...

sábado, 27 de março de 2010

As cidades pequenas

Assaré: en cada encruzilhada, um poema.

Há alguns anos , venho costurando o Brasil dentro e fora de mim. Ganho pouco mas viajo muito. Posso me orgulhar de conhecer 18 capitais brasileiras, a maioria delas, razoavelmente bem. Tudo isso fazendo teatro. Nesse momento estou em Sousa , na Paraíba. Uma pequena cidade sem maiores atrativos turísticos. Nem bonita nem feia, mas adorável. Já conheço a Paraíba, estive em João Pessoa e Campina Grande, duas cidades grandes, mas estou encantado com Sousa. É incrível constatar como minhas melhores lembranças estão frequentemente ligadas aos pequenos povoados, às cidadezinhas. São tantas! Assaré e as placas de rua com poemas de Patativa, Nova Olinda e a Casa Grande, Tacaimbó que virou meu lar de empréstimo e lugar que me deu alegria sem preço, Palmeira dos Índios de Graciliano Ramos, Teotônio Villella e a grande feira tomando conta de toda a cidade, Poconé e a cavalhada, Paranataí e um bar de madrugada, Caicó e os anjos saindo da igreja depois da missa de Domingo e a platéia cantando em coro:

" oh mana deixa eu ir,

oh mana eu vou só,

oh mana deixa eu ir para o sertão de Caicó"

Crato, meu amado Crato!

São muitas!

Dentro de 3 dias volto para São Paulo, lugar que escolhi para viver. Volto louco pelo pão de queijo do Coj. Nacional mas adocicado pelos interiores.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Católico demais- Cia do Tijolo em Recife e Olinda

por Rodrigo Mercadante

Ontem foi um dia especial.Decidimos ir à oficina do Francisco Brennand no bairro da Várzea no Recife.Já conhecia o espaço, estive lá muitas vezes e tenho que confessar que é um dos lugares que mais amo na vida. Sou completamente apaixonado por aqueles trabalhos! Tão sensuais, ancestrais, brutais! Senti falta do Rogério,queria que ele estivesse conosco. Na volta para o hotel em Boa Viagem havia uma manifestação em uma comunidade próxima ao hotel. Haviam prendido uma senhora, suspeita de ser uma das chefes do tráfico de drogas de lá. A população se revoltou e fechou o acesso a Boa Viagem.Fomos parar em Olinda, mais precisamente no Bar da Noca, conhecido por sua macaxeira com carne de sol e queijo de coalho. Uma coisa dos Deuses. Quando estávamos saindo, demos de cara com uma procissão, daquelas com velas acesas dentro de lâmpadas de papel, homens vestidos de casacos lilázes e um carro com uma cruz atravessada por dentro, representando o corpo morto de Cristo. Era a procissão do encerro. Uma multidão caminhava e cantava nas ruas de Olinda.Me lembrei tanto de Minas!No alto da igreja da Sé, um menino tocava o sino! Entramos na igreja emocionados e, qual não foi a minha surpresa ao ver que Dom Helder Câmara está enterrado alí. O Bispo Vermelho que disse uma vez: " quando dou pão aos pobres, me chamam de santo.Quando pergunto por que os pobres não tem pão, me chamam de comunista"...
Saí de lá tão católico!!!! Acho que sou mesmo uma pessoa fora do sincro. Sempre suspeitei disso. Desde muito cedo , suspeito de toda religião e principalmente dessa espiritualidade pós moderna que acende vela pra todo mundo, e troca a crença no Deus católico por uma crença em qualquer coisa tola que dizem. Sempre detestei a religiosidade e estou com Freud e não abro!Mas, de um tempo pra cá, sinto uma necessidade de fazer as pazes com a tradição de minha família.Não voltar a crer, mas me reconciliar e conviver amigavelmente com essa parte de mim mesmo. Descobri por exemplo, que conheço de cor quase todo o ritual da missa, assim como muitas canções religiosas. Sou fascinado pela vida dos santos e pela arquitetura das igrejas. Acho algumas passagens da Bíblia muito comoventes e amo Tolstoi, Dostoievisk, Bernanos, Adélia Prado, e todos esses escritores que trazem esse Deus tatuado na carne, no verbo e nas letras.
Ai meu Deus! Mas como voltar a me reconhecer católico, logo agora que padres são desmascarados, o papa tem sua reputação abalada por fazer vista grossa ao comportamento desprezível dos pedófilos?
Acho que é justamente por isso! Tenho a tendência de levar à sério aqueles que foram desmascarados. Acho esses mais humanos. Aquele cujas costas suportam a cangalha da perfeição são orgulhosos e soberbos demais. Não podem ensinar nada a ninguém e nem devem faze- lo. São como virgens ensinando a amar.
Não estou defendendo padre nenhum aqui! Se forem mesmo culpados, cadeia neles. Mas, olhar a face humana da igreja, permite que eu goste um bucadinho mais dela. E ambos, eu e ela, tão cheios de pecados humanos, demasiado humanos, talvéz possamos conversar mais amigavelmente.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Tacaimbó - Antes da chuva

Montagem do espetáculo em frente à igreja de Santo Antônio na praça Francelino de Araujo em Tacaimbó.
São Pedro ficou enciumado e não permitiu nossa apresentação. Fica o desejo e a promessa de uma volta

domingo, 21 de março de 2010

Taca im bó


Taca im bó ra


Já brinquei


Ta ca im bó ra
chega mais pertinho

Ta ca im bó
É estranho pensar as oliveiras o marrrrrrrrrrrrrrrrrr

As caravelas!!!!

O rio ta seco

Ta ca imbora molha

Ta cai m du folhas


Taca im bó
rastro


Ta ca im bó
esquina


Ta ca im mimmmmmmmmmmmmmmmmmmm
Vamo fazê
Labareda de cachaça

Ta ca im mimmmmmmmmmmmmmmm
Vamo prega
A cruz de São José

Ta cai im mimmmmmmmmmmm
nada
vamos fazer sei lá nada


Ta ca im mimmmmmmmmmmmmmmmmmmm
Ta ca im mimmmmmmmmmmmmmmmmmmm
Ta cai im mimmmmmmmmmmmmmmmmmmm


Estrela do sorriso do ladrilho da escada que brilha lá de baixo da mesinha de canto


Vamo cume feijão
Vamo cume aquele feijãooooooooooooo

Os olhos da porta da mulher do pano na cabeça
A espingarda que disse que não disse
O espírito santo
O espírito de porco
O esprito da canjica
O esprito do mungunzá
A canela do cabrito
A bisteca do boisinho
As águas no olho do antigo menino


Passear
Olhar
Sentar
Passear
Olhar
Sentar


Cun ver sar
em ta cai m bó


Res pi rar
em bó cai m ta

em ca i bó m ta

em im bó ta ca


em ca ta bó im

ta bó im ca

bo ta im ca

im ca ta bó ra


Tacaimbó

Rogério Tarifa

quarta-feira, 17 de março de 2010

Outros espaços

por Rodrigo Mercadante

Juazeiro, Fortaleza e agora, Caruaru. A apresentação de ontem em Caruaru foi extraordinária. Havia 200 pessoas, colocamos o palco em um formato diferente, meio torto, fora do centro, com metade da plateia sentada abaixo do nível do palco e a outra metade sobre o palco. Mesmo assim, o público se manteve atento e participativo, se emocionou, riu como muitas vezes acontece , graças a Deus.Interagia e respondia aos estímulos de uma maneira surpreendente.
(No Crato, fizemos em espaço aberto e a peça se mostrou forte para resistir à prova da rua.)


Cada vez mais me irrito com a ditadura da "precisão", da repetição e da "limpeza". A palavra precisão em teatro pode referir- se a muitas coisas e devido a essa impossibilidade de ser "preciso" a respeito de seu significado, muitas vezes vinculamos essa ideia à uma necessidade de repetir as mesmas "marcas" todos os dias em condições ideais de espaço, iluminação, refrigeração ou não do ambiente, e etc...





Pergunto uma coisa: o que é que se repete no teatro?Essa pergunta aparentemente vaga movimenta em mim uma série de questões sobre a própria natureza da comunicação humana. Comunicar é dizer alguma coisa a alguém! Quando se trata de agregados sensíveis que se movimentam com ideias e imagens, como é o caso do teatro , aí é que a coisa se complica. Não gosto dos espetáculos que pretendem dizer coisas com o objetivo de atingir a todos de forma igual. Talvez o Fantasma da Operá seja capaz disso.... Sua estrutura dramática e musical já é bem conhecida de nossos olhos e ouvidos.´A hora de chorar e a hora de rir. O gosto forjado pelo hábito.


Mas a comunicação de algo mesmos megalomaníaco exige que nos relacionemos com o público e com o espaço de uma forma cuidadosa e singular. Para quem eu estou falando? Que momento é esse em que eu vivo e em que essas pessoas àsquais eu me dirijo vivem?? Se estou falando de Patativa em Assaré, sua terra natal, ou na Av. Paulista, devo falar dele da mesma forma? Não consigo aceitar essa ideia! Isso seria aceitar o teatro que nasce, cresce e morre ao redor de nossos umbigos.


Acho que a relação entre atores e público deve ser cada vez mais "real". Coloco real entre aspas, pois sei que essa palavra pode gerar mal entendidos. Por real entendo aquela relação que leva em consideração o presente, o momento em que se dá o espetáculo, o movimento gerado por ele in loco, podendo modificar assim , diante dessas demandas, até mesmo a estrutura do espetáculo. As convenções são explicitadas, os erros são parte integrante e desejada do dele. É assim que ele cresce e gera significados.


Existe uma expressão de Deleuze que diz : o que retorna sempre é a diferença! O eterno retorno da diferença!



Quando escuto um ator preocupado com ninharias cênicas sempre me pergunto: será que esse sujeito acha mesmo que esse tipo de preocupação realmente é o que interessa em teatro? Amaldiçoo a palavra precisão até minha última gota de sangue. E , aquele ator que tem medo de errar e se adaptar, é um tipo de artista fadado a desaparecer. O teatro deve à possibilidade do erro a condição de sua existência.

domingo, 14 de março de 2010

Nossa apresentação em Sobral



Patativa e Lorca: uma abordagem possível

por Rodrigo Mercadante
Estou lendo a biografia de Federico Garcia Lorca a quem chamam frequentemente de "poeta da terra Andaluza". Aliás, ele mesmo se auto denominava assim. Há uma passagem linda em sua biografia em que ele narra sua primeira experiência estética. Diz o poeta Andaluz que, quando era criança em Fuente Vaqueros, sua cidade natal, gostava muito de assitir ao trabalho do arado de ferro que perfurava a terra e que se admirava que dela não brotasse o sangue. Já sabia ele que a terra e o corpo humano se ligam indissossiavelmente nas construções mitológicas e poéticas. Um dia, o arado insensível se deteve, encontrou sob a terra algo forte o suficiente para barrar sua passagem: era um antigo mosaico romano. Aquela obra de arte antiquíssima brotava da terra, revelando séculos de civilização sob seus pés.
Lorca narra essa passagem como sendo sua primeira experiência poética. Acredito eu que essa narrativa de um fato ocorrido na infância do poeta é uma síntese de todo o seu ciclo de poemas e tragédias da Andaluzia: poema do Cante Jondo, Romanceiro Gitano, Bodas de Sangue, Yerma e Bernarda Alba.
Aproximar Lorca e Patativa pode parecer um pouco arbitrário ou até mesmo irresponsável e leviano devido às muitas diferenças estéticas, biográficas, geográficas que os colocam aparentemente em espaços estéticos muito diferentes.
Lorca era filho de um rico fazendeiro e foi educado em instituições conceituadas enquanto Patativa era um matuto pobre e semianalfabeto. Lorca estava ligado às vanguardas europeias do início do século, é considerado por muitos um surrealista, (classificação da qual discordo totalmente), e se ligava aos ultraístas, modernistas espanhóis. Já Patativa era um poeta " anacrônico" se inserido dentro da história da poesia brasileira. Seu primeiro livro, editado em 1956 segue as premissas da poesia com metro e rima. Patativa ama o jeito clássico de fazer poesia. Foi um parnasiano matuto que inseriu sua poderosíssima poesia rimada na história da poesia brasileira num tempo em que já existiam Drummond, Mário, Oswald etc...
Mas, mesmo conhecendo a distância entre eles, aproxima-los me é irresistível! Os dois foram poetas da terra e principalmente de sua terra. Patativa cantou Assaré e Serra de Santana e Lorca foi o grande cantor da Andaluzia e principalmente de Granada. Ambos se alimentavam conscientemente da fala de sua região, da poética brotada da fala cotidiana de seu povo. Lorca falava que suas metáforas já estavam prontas na tradição andaluza, nas cantigas de ninar, nas histórias de assombração contadas pelas criadas e Patativa diz :
"toda vez que olho para cima/
vejo um dilúvio de rima/
caindo em riba da terra"
Para ele também a poesia já está alí pronta e cabe a ele revela- lá. Lorca utiliza a herança dos romances e jograis populares, poemas repetidos de boca em boca pelo povo, que contam histórias e fatos pitorescos de um povo ou de uma pessoa em particular. Patativa utiliza o cordel e aprende a amar as palavas ouvindo os cordéis. Utiliza- os e os ultrapassa. Tanto os cordéis como os romances são rimados e são feitos para serem memorizados e repetidos. Muitos viram obras de domínio público. Os poemas do Romancero Gitano são ditos de cor por muitos espanhóis assim como os poemas de Patativa aqui em Assaré.

Lorca canta a opressão dos ciganos andaluzes, sua cultura e a perseguição secular que assola aquele povo. O Romance da Guarda Civil Espanhola é um poema que se transformou em símbolo de resistência durante a Guerra Civil de 36. Patativa, canta os migrantes miseráveis, ciganos por necessidade, suas agruras, seu sofrimento no sertão e na cidade grande. A triste Partida é o hino dos migrantes Nordestinos:

" Setembro passou, Outubro e Novembro
tamo em Dezembro
Meu Deus que há de nós!

Ambos eram poetas engajados sem nunca terem se filiado a nenhum partido político. Ambos perceberam a miséria em seu aspecto mais absurdo e a denunciaram. Carregavam em si o germe do inconformismo diante da opressão, mas era um inconformismo poético! Creio que a frase de Paulo Freire " Sou tão comunista quanto Cristo o foi" caberia muito bem na boca de qualquer um dos dois, pois ambos eram extremamente religiosos.
Patativa falou dos Nordestinos em São Paulo e no Rio. Lorca foi um olho Andaluz denunciando as moedas devorando auroras e recemnascidos na cidade de Nova York.
Essa é sem dúvida uma aproximação afetiva e, para ser analisada a fundo, precisaria de um olhar mais especializado que o meu. Patativa viveu muito e é um patrimônio Brasileiro, Lorca teve menos sorte...

sexta-feira, 12 de março de 2010

Canindé

Por Rodrigo Mercadante

A beleza do Sertão é mesmo peculiar!!!! Hoje nós viajamos o dia inteiro. Deixamos Juazeiro, cidade que eu tanto amo, e seguimos Ceará adentro. Com o objetivo de cortar caminho, 50 km aproximadamente, entramos por uma estrada quase intrasitável. Esburacada, perigosa, mas de uma beleza inexplicável. Já havia estado numa estrada parecida há 2 anos atrás quando, depois de me apresentar em Teotônio Villella, viajei em direção à cidade de Caicó, no sertão do Rio Grande do Norte. Muitas pedras nas encostas, poucos povoados e uma luminosidade comovente, principalmente ao entardecer.
Às vezes, acho que crer em Deus é mais fácil em determinados lugares, em determinadas paisagens. Esse Deus que conforta, se é que ele existe, necessita de horizontes para se revelar. Precisa do infinitamente grande e do infinitamente pequeno, das alvoradas e do Pôr-do-Sol. Ah, como Deus é impossível nas metrópoles! Sem horizontes, sem espaços livres, ele se perde atrás dos prédios, dos relógios, dos vidros escurecidos, se confunde com os anúncios gigantescos e coloridos. Da janela de um ônibus lotado às 6 da tarde, fica difícil entrevê-lo, e nos 20 minutos de almoço, ele nem mesmo tem tempo de se esboçar em uma de suas infinitas formas! Como disse Camille Claudel, "há sempre alguma coisa de ausente que nos atormenta". A cidade só pode ver Deus em sua forma mais terrível, nas tempestades e catástrofes, na natureza em fúria afirmando nossa pequenez e revelando o ridículo do orgulho humano.

...Ai, ai, que bom. Que bom que bom que é. Uma estrada e a lua branca. No sertão de Canindé...

Passamos por Canindé. Lá, uma estátua de São Francisco de Assis, meu santo preferido, proteje a cidade. Fico sabendo que quase um milhão de romeiros passam por lá na época das romarias, que os caminhões Pau-de-Arara (sim, ainda existem e são muitos) transitam enfeitados de fitas e flores e que os romeiros compram sacos de bomboms e espalham-os pela cidade engendrando uma chuva de chocolate e açúcar atirados da janela dos ônibus em sinal de gratidão. Achei tão comovente!
Chegamos a Sobral. A cidade é impecável. Avenidas largas e limpas, casarões antigos, um povo orgulhoso de sua terra e um teatro de mais de 200 anos onde nos apresentaremos amanhã.

Caminho de Santo



Por Karen Menatti

Hoje, já quase ao cair da tarde, fomos conhecer o Caminho dos Romeiros. Fica no meio do morro onde está localizada a Estátua do Padre Cícero, o seu Memorial, a Igreja... Tudo isso, claro, em Juazeiro do Norte.
É um caminho de terra, aberto, com mato, casinhas aparentemente abandonadas mas repletas daqueles climas de histórias de mistério e muitas, muitas pedras que nos acompanham durante toda a trajetória, ou nós a elas!!! Essas pedras representam as pessoas que não podem estar ali presentes durante a romaria. Por uma coincidência, pois só ficamos sabendo o que carregar essas pedras realmente representava quando estávamos de volta ao Memorial, eu carreguei uma pedrinha comigo e Maurício Damasceno levou duas em suas mãos. Deixamos nossos "amuletos intuitivos" no primeiro altar que encontramos próximo a Igreja onde, conta uma estória, está enterrado o corpo de Padre Cícero. Então, depois de saber de seu significado, em nossa interpretacão saudosa, nossas pedras se transformaram em Jonathan Silva, Fabiana Barbosa e Silvana Marcondes. Companheiros de pesquisa e caminhada de vida e trabalho que não estão presentes nessa viagem por conta de seus rebentos, o que aqui já está e os que estão quase chegando. Todos na bela tarefa de cuidar de novas vidas!
Tivemos que retornar faltava poucos metros pra finalizar nosso ciclo, porque eu, dentro daquele mágico cenário com várias capelinhas brancas em cima de pedra imensas, fiu picada por um marimbondo bem no canto direito de minha boca! Voltei para a realidade instantâneamente!!!!!!
Voltamos já no escuro ao som dos grilos e de todo o universo que povoa uma trilha após às 19h00. 4o minhutos para ir , 40 minutos pra voltar. Caminharia 40 horas, com ou sem dor de picada!!

"... Ave Maria, Mãe de Deus Jesus,
Nos dê força e coragem
Pra carregar a nossa cruz!"

quarta-feira, 10 de março de 2010

Contradicões

por Karen Menatti
(Esse texto foi escrito dia 17)

Num dessses dias fomos visitar o Sítio Caldeirão da Santa Cruz do Deserto. Já sabíamos que era uma comunidade afastada do Crato mas eu não tinha idéia do quanto: uns 40 minutos de carro por uma estrada de terra em meio a morros verdes.Isso tudo depois de pegar uma estrada já fora da cidade. Se hoje em dia chegar ao Caldeirão já é complicado, ficamos pensando Rogério e eu , o quanto deveria ser difícil o acesso na década de 30. E mais, no quanto aquela comunidade realmente representava uma ameca, ou não, aos poderosos e fazendeiros da época, ameaca de falta de mão de obra, enfim. Claro que havia o medo/ignorância daquele pequeno conglomerado tornar-se um novo Canudos. Sabemos que eles não estavam armados mas sabemos também que não eram tolos: na primeira invasão três soldados foram mortos a pedradas e pauladas por alguns moradores locais liderados por Severino que não concordava com o Beato ZéLourenco em receber a invasão sem reagir. Eu me pergunto: Se alguém invadisse meu quintal, minha casa, ameacasse minha família, qual seria minha reacão? E, poderiam alguns membros de uma comunidade pacífica, que prega o " orar e trabalhar", reagir de uma forma dita, mais violenta?
Preservacão, auto-defesa! Contradicões humanas!
Ontem paramos em uma rodoviária no caminho de Sobral a Fortaleza e nos deparamos com uma frase escrita numa de suas paredes que falava sobre união. Não me lembro agora exatamente as palavras mas era uma frase bonita, dessas de efeito que nos chamam a atencão.Qual não foi nossa surpresa quando ao descermos os olhos para verificar o autor , vimos escrito Franco. Franco????Seria mesmo aquele Franco? Comecamos a olhar em volta esperando outra frase de autoria de Adolf!!!!!!Seria mesmo aquele Franco? Sendo ou não, o questionamento "contradicões humans" nos abordou novamente, a mim e ao Rodrigo.
Contradicão que se estende à nossa peca também. Pegando como exemplo a cena da abordagem companhia x Patativa; no espetáculo assumimos,criticamos e até "brincamos"com essa possível e constante ingenuidade que existe quando nos deparamos com pessoas ditas notáveis. Sacamos nossas cameras, botamos nossos sorriso de turista deslumbrado no rosto e ficamos quase sempre um tom acima do que pede a realidade dos fatos. Quase uma excitacão exacerbada. Quantas vezes nós atores não nos comportamos dessa forma durante essa viagem,nos colocando numa lente de aumento? Quantas vezes não nos deparamos com nosso comportamento de "estrangeiro" durante esse trabalho/pesquisa/viagem? Não quer dizer que é certo ou errado, bom ou ruim, não quero juízo de valores, só me pergunto se isso é consciente? Mais uma vez o questionamento de como se colocar, se encaixar ou simpelsmente assumir diferencas diante de fatos e posturas divergentes.
Existe um pensamento japonês que diz que o simpels fato de você observar uma flor ela já é alterada. Que o ato de observar já modifica o ser/objeto observado. Acredito que pode ser porque o objeto observado passa do estado de pura existência não qualitativa para o estado em que é interpretado. Aos olhos de quem vê, claro!!!!!!!! Ganha então, adjetivos, verbo e tudo isso à partir do ser observador.o que mostra que qualquer experiência pessoal tem, contraditóriamente , ressonância transferível!
Contradicões!

segunda-feira, 8 de março de 2010

Nova Olinda - Seu José de Eloi

Por Rodrigo Mercadante

Conheci Nova Olinda antes de conhecer Nova Olinda. Conheci- a primeiro pelos olhos de amorosos de Dinho Lima Flor.Tem jeito melhor?Já tinha ouvido falar da Casa Grande, da Lupita, do Rodrigo, de João Paulo, de Seu José de Eloi, do teatro Violeta Arraes. Imaginava cada detalhe, cada esquina descrita por Dinho.

Essa já é minha terceira visita.

Ao chegar perto da igreja, ouvi a voz de Seu José de Eloi cantando o terço.Dinho já me contara um pouco sobre ele. Há uma história belíssima a seu respeito. Contam que um dia ele costurava um vestido de noiva com as janelas de seu quarto abertas. Costurava e cantava. Cantava pra seus santos. Até que viu o perfil de um homem na escuridão, e mais outro e mais outro. Seu José, amedrontado, não parou de cantar.
Os homens ouviram por algum tempo, e se foram. No dia seguinte, o vestido pronto, ficou sabendo se tratar do bando de Lampião em passagem pela cidade!

Me vi um pouco nele. Como seria eu se tivesse nascido em Nova Olinda há 80 anos atrás? Pensei: acho que eu seria um pouco como Seu José de Eloi. Levaria a vida cantando pra espantar as tristezas de um amor obscuro não correspondido.Cantaria como ele as ladainhas para São Sebastião, santo do qual ele é devoto. Talvez não fosse costureiro,pois me faltam os atributos básicos para desempenhar essa profissão, mas estaria irremediavelmente perto da beleza!
Seu José é timido, quase infantil e se amedronta com coisas corriqueiras. O ohar de uma ternura quase insuportável. Quando pedimos para que ele cantasse para nós, primeiro se envergonhou, tentou se esquivar, mas depois cantou com uma beleza extraordinária.
Lorca diria que Seu José de Eloi tem o Duende.

Cia do tijolo visita casa de patativa do Assaré. Parte 1/2

Já estudamos a vida e obra de Patativa do Assaré há mais de 3 anos.Realizamos , a partir dessa pesquisa , 2 espetáculos lindos que nos deram e ainda nos dão alegrias imensas. Essa visita reflete um desses momentos de alegria.Ela aconteceu no dia de nossa apresentação em Assaré, no dia 06/03/2010





domingo, 7 de março de 2010

Montagem Assaré

Chegamos em Assaré no 5 de Março, aniversário do Poeta. Completaria 101 anos




Obviedade


Por Karen Menatti

Diante de toda a obviedade da beleza e cultura do Cariri , às vezes me sinto batendo numa mesma tecla, ingênua e deslumbrada!
Mas é difícil não se emocionar ao ouvir um garoto de nove anos dizer que seu filme preferido é Cine Paradiso "apesar de gostar muito de 'As Bicicletas de BelleVille' também"! Como não se deixar levar por essas sensacões ao ver criancas e adolescentes cuidando da rádio regional, ajudando na montagem e aparatos técnicos do espetáculo, desejando tornarem-se cineastas, arqueólogos, tudo isso enquanto brincam de pega-pega? Problemas existem em qualquer lugar, em qualquer projeto, claro! Mas essa tentativa constante de aprimoramento cultural e democrático não se vê a qualquer hora.
Nova Olinda não se resume às suas casinhas coloridas, seus megafones instalados nos postes para trasmitir a rádio Casa Grande e a Ave Maria Sertaneja todos os dias pontualmente às 18h00. Tem também Seu Zé de Eloia, cantador de benditos, Seu Expedito e sua bolsas, sandálias, cheiro de couro... Suas ruazinhas e ladeiras de pedras, seu clima atemporal, a Fundação Casa Grande...
Tem como não se comover ao ver um casal jovenzinho dando as mãos e chorando juntos ao ouvir "A Morte de Nanã", na linda interpretacão de Dinho Lima Flor? Ou ao cantar "... Faz pena um nortista tão forte e tão bravo, viver como escravo nas terras do sul..." e olhar nos olhos lacrimosos de um homem de chapéu preto e pele marcada de sol?
É, talvez eu seja óbvia e reduntante. Mas é mesmo, exatamente e verdadeiramente assim que me sinto hoje! Paulistana da enchente e do café expresso da Paulista, brasileira do samba, cearense das rendas e de Padre Cícero! Tudo misturado aqui dentro. Redundante e óbio!

sábado, 6 de março de 2010

Seu Geraldo Alencar


Por Rodrigo Mercadante

Conhecemos em Assaré, Seu Geraldo Alencar. Poeta, sobrinho de Patativa, escreveu com ele " Conversas ao pé da Mesa", além de muitos outros livros de poesia. Patativa dizia que há muitos versejadores pelo mundo afora, mas poetas há poucos. Versejador é aquele que, entendendo a forma do Cordel e as regras da rima, é capaz de contar uma história sobre um caso, um acontecimento, fazer uma crítica, etc.... Mas o poeta é outra coisa! O poeta é filósofo, faz filosofia. Patativa dizia que Seu Geraldo Alencar era um verdadeiro poeta.
Tivemos com ele uma conversa breve, mas emocionante. Sentados no chão de areia da quadra onde há pouco apresentáramos nosso espetáculo, ouvimos Seu Geraldo declamar!
Seu Geraldo é um senhor que passou recentemente por um transplante de rins e por isso mesmo é um homem visivelmente frágil. Mas quando começa a declamar seus versos, os olhos brilham, a voz torna-se potente, os braços gesticulam, o corpo conta e canta! Como na retórica antiga, a declamação é parte importantíssima na poesia de tradição oral. Mesmo quando é escrita, como no caso de Seu Geraldo, é feita para ser dita, declamada, é pura performance.
Ele, como seu tio, escreve poesia matuta mas escreve também sonetos na forma clássica. Diz que gosta de "poesia branca" (poesia sem rima) desde que possa compreende-la. Senão não é poesia, é prosa ruim!
A poesia dita "popular" é o belo que tem que poder ser comunicado a todos os ouvintes. Patativa e Seu Geraldo Alencar detestam o hermetismo.
Perguntei a ele o que ele achava de Drummond e Pessoa, e ele respondeu que gostava dos poemas que era capaz de entender.
Prometo postar alguns de seus poemas aqui.

sexta-feira, 5 de março de 2010





Aniversário



Por Rodrigo Mercadante

"Ah, meu Assaré amado
Eu sinto munto a sua sorte.
Tu és dos mais deserdado
Daqui das bandas do norte
...
Não posso te protegê
Nada tenho pra te dar
Mas porém quando eu morrer
Com razão vou te deixa
Uma pequena lembrança
Uma pequenina herança
Em nome do meu amô
O nome de um passarinho
Uma viola de pinho
E os verso de um cantador"

Hoje é dia 5 de março, data em que Patativa do Assaré comemoraria 101 anos.
Assaré é uma pequena cidade que tem sua paisagem atravessada pela poesia de Patativa. Patativa cantou sua pequenez. Ele está em cada esquina, sua imagem e seu retrato estão em cada canto, fragmentos de seus poemas escritos nas placas sob o nome das ruas. Para um artista(e nós artistas estamos sempre duvidando do poder da arte) é muito esclarecedor perceber que a poesia pode mudar até mesmo o desenho urbano de um lugar, inventar- lhe um rosto. As poesias serviam para eternizar os heróis, os poetas gregos cantavam os feitos olímpicos, mas Patativa cantou Assaré.
Ao chegar na cidade e ver as pessoas espalhadas pelas calçadas, levando suas vidas, simplesmente existindo, me pergunto até que ponto elas são conscientes do quanto o fato de Patativa ter existido e escrito poemas tão bons e se consagrado poeta, influencia na sua própria "autoestima", abrilhanta aquele lugar dentro de nós mesmos, que nos permite nos orgulhamos de pertencer à nossa terra natal. Um morador de Assaré tem no caminho da construção de sua subjetividade um pedaço de um verso de Patativa, ainda que dele não conheça nem um poema, nem mesmo um verso....
O corretor de texto colore de amarelo a poesia matuta de Patativa. Ou ele não entende, ou entende por demais.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Primeiro dia de viagem - Miryam Muniz

por Rodrigo Mercadante

Essas viagens, longas viagens de trabalho sempre parecem que não vão acontecer até que colocamos nossos pés no Aeroporto, na rodoviária, quando botamos nossos pés na estrada. Chegamos a Guarulhos e em São Paulo chovia, chovia fino.
"Meu São Paulo da garoa
Londres das neblinas finas..."
As transformações, as metamorfoses dos Brasis acontecem dentro dos saguões dos aeroportos, dentro da barriga do avião!Somos Jonas na barriga da baleia!
De São Paulo a Recife, de Recife a Juazeiro o céu se abre, o azul se impõe, as roupas se colorem e as cores se adensam, os rostos que exibiam uma neutralidade polida pouco a pouco dão lugar aos rostos marcados pela tristeza e pelo sol, mas vocacionados para o exercício de uma alegria fácil e expansiva. A cada milha percorrida as palavras se adoçam e passam a correr mais fluídas e fáceis, menos práticas e úteis. O empresário afrouxa a gravata,a mulher importante tira o salto e estica as pernas. Quando pousamos em Juazeiro todo avião falava ao mesmo tempo, se desentedia e milagrosamente se entedia.
O homem polido se esquece do francês e do inglês e revela a bagunça suarenta do homem cordial.
Seu Patativa do Assaré estava sentado na cadeira 1C do voo Recife Juazeiro. Soube imediatamente que estavamos em boas mãos...

Reativando o Blog do Tijolo

O nosso blog foi uma iniciativa que surgiu no período de ensaio e pesquisa da Cia. do Tijolo para a realização do Espetáculo "Concerto de Ispinho e Fulô". Primeiramente fechado e agora aberto à visitação de todos. Deem suas opiniões e bemvindos!

Viagem que quer chegar...


Por Karen Menatti

" Viagem que quer chegar...
Velho Chico, verde, nuvem, só!
Sobradinho
Deságua vidas,
Me água."


Assaré em Festa

Desde o dia primeiro Assaré festeja o aniversário de Antonio Gonçalves da Silva. Nessa noite, sob uma imensa e amarelada lua sertaneja, saímos de Juazeiro do Norte em direcão a Assaré, o que significa umas duas horas de estrada. Visistamos o Memorial do Patativa e lá encontramos o seu filho mais velho, Seu Geraldo. Ouvimos as suas histórias especialmente a que relatava orgulhoso, o dia em que recebeu uma homenagem dada a seu pai (incuindo abraço caloroso) do Presidente Lula, e embalados pelo seu timbre de trovão, alguns trechos de poemas paternos.
Terminamos a noite em celebração com toda cidade num parquinho e dois palcos montados na praca principal.
Parquinho de cidade pequena, forró de Santana, mungunzá salgado, a lua, a estrada e uma leve brisa...

"...Teus vento assopra maêro durante os teus mêis di istio
Trazendo um certo tempêro que num faz calor nem faz frio..."

A viagem -