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sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Paraíba - Nosso segundo bordado.



Fincamos a pedra boa. Pedra boa feita para construir pontes.Daquelas que ligam o ontem e o hoje. Pedra boa pra caminhar.
Fincamos a pedra boa. Pedra de festa de cumieira.Daquelas que enchem a casa de festa pra firmar encontro bom.
Fincamos a pedra boa. 
ao bom encontro.Enfim.

Em João Pessoa, no Teatro Paulo Pontes. 


A Paraíba é bonita, viu! Nosso segundo ponto do bordado.   



João Pessoa.

Nossa casa.
O alojamento da universidade de João Pessoa foi nossa casa. Porque tinha sala, tinha varanda, tinha visita. Porque ali naquela sala comemos, cantamos. Ali naquela sala brincamos. Nossa pedra boa. Alguns de nós já estiveram antes em João Pessoa, Jampa ou Johnnie People. Muitos amigos feitos e muita vontade de voltar para deixarmos um pouco de nós por lá. Digo “por lá” pois escrevo olhando o mar, não de Jampa mas do Recife. Aqui na praia do Pina, com os pés na janela e a cabeça recordando um passado tão próximo e que às vezes parece distante por conta da intensidade diária. Acho que é assim mesmo quando
estamos no turbilhão bom. Talvez seja assim mesmo. E não é que depois de três dias cantando na casa, o guarda da universidade nos pediu gentilmente que parássemos o som?
-Mas por quê? Não tá bom, não?
- Tá é bom! Mas aqui do lado é casa do padre!
Pronto. Nosso som ganhou o apelido de "Forró do Padre"    


"A sala tá cheia, minha gente, como é que eu entro agora?"

O Patativa brincou duas noites no Teatro Paulo Pontes. Sala cheia, apinhada de gente. Muita gente entrando e muita gente que ficou de fora.Lá conhecemos Antônio Patativa, não o poeta Patativa que também tinha Antonio por nome. Mas um filósofo que nos assistiu e que trazia no seu Rg nome forte. Reencontramos os amigos Jorge, André e fizemos outros. Reencontramos com o rapaz da foto ao lado que nos assistiu da outra vez que estivemos por lá. Primeira e única vez que houve um pequeno "acidente" em nossa apresentação: ele se machucou com um tijolo.Pois bem, ele não só voltou porque disse ter gostado muito da peça como nos visitou na nossa casa. João Pessoa é assim, tem pessoa no nome, gosta de gente.Ficamos de alma lavada! Essa terra que tem as águas quentes de Iemanjá! Água boa, forte, intensa. Essa terra tomada por árvores, flores, verde por toda parte. Respira-se por lá. Com tranquilidade. Nós limpamos ali nossos pulmões.

Das crianças.

Theo e Miguel nessas duas apresentações, além de participarem da peça também ficaram assim, juntinho do pai. Bonito de ver! Às vezes é bom também ver um filminho e comer doce. E com essa leveza toda aprendendo sobre iluminação, poesia, música, teatro, cinema. Aprendendo e nos ensinando. Talvez não nessa ordem! 














Itabaiana.






Ed e sua poesia sobre o Zé da Luz.


Com o pessoal de Itabaiana.
Chovia em Itabaiana. Nuvens coroavam a igreja principal. Nuvens cor de chuva. Daquelas pesadas. Pernilongos alvoroçados. Nós inebriados. O Concerto brincou no terreiro do restaurante do Buffet Finesse. Um espaço aberto que dava passagem para a brisa da noite. Víamos as pessoas se achegando, calmamente, no tempo que tem uma cidade pequenina. Tempo outro. Adolescentes ainda de uniforme escolar; famílias e todos que estavam no sarau da noite anterior. E nessa noite do sarau, o da noite anterior, foi brincadeira de poesia e música. Palavras de Zé da Luz que saíam da alma de Edglês Gonçalves: “As Flô de Puxinanã” dita especialmente para Thaís Teixeira, nossa lindíssima amiga e produtora. Nessa noite, que começou tímida, tivemos  violeiros da cidade e também dois “dizedores” de poesia em especial: Miguel, que lançou as palavras de Seu Geraldo Alencar e Theo que repetia sussurro de poesia ao pé do ouvido. Fabi sussurrava, Theo  falava. Os dois com a desenvoltura de quem tem a brincadeira no desenrolar da vida. Talvez tenha sido porque o nome do café onde estávamos era Sivuca, Sivuca Café. Itabaiana, cidade do acendedor de lamparina, Zé da Luz, e do acendedor de sons, Sivuca.     
Chovia em Itabaiana. E durantes as noites, na hora de jantar, ouvíamos histórias como a da “Véia do coloral”, uma mulher mais velha que se banhava nua na beira do rio e se divertia com os meninos da cidade que se atropelavam pra vê-la “nuinha” como veio ao mundo. Fomos aconchegados e recebidos feito casa de mãe.  
No dia em que saímos de Itabaiana parou de chover! Que o retorno seja breve.
Café Sivuca.


Café Sivuca.


Ainda sobre Zé da Luz – nosso abraço e bordado.

Quando ouvi pela primeira vez o poema “Confissão de Caboclo”, do poeta Zé da Luz fiquei com boca de janela, daquelas que custam a fechar! Zé da Luz tem essa sensibilidade matuta que entra nos nossos vãos e enchem a gente de água, daquelas que saem dos nossos olhos. Esse em especial. Conta a história de um homem que mata a mulher por desconfiar de sua fidelidade. Dói. O poema dói. E o modo como constrói a história passa pra nós, leitores ou “ouvidores” a rudeza do fato. A palavra porém não é rude; é delicada como lâmina de facão. Trata da vida coberta pela neblina do analfabetismo. Conheci esse poema pelas mãos de Dinho Lima Flor, durante um voo. Estávamos em 2009 indo para o Ceará e Pernambuco também para apresentar o Concerto. Hoje, 2015, Dinho apresenta seu solo “ Ledores no Breu” no qual tem esse poema como guia. É magistral o que faz! Não digo por ser meu amigo mas sim pela inteireza que ele tem como artista. Gostaria de colocar aqui um vídeo dele declamando mas como ainda não temos deixarei um com o também sensível homem que é Rolando Boldrim. Além de “Confissão de Cabocla”, a delícia do poema “Ai, se sesse!” conhecida na voz de Lirinha, quando ainda estava no Cordel do Fogo Encantado.

Em Itabaiana mora também Jessier Quirino, que tem como terra natal Campina Grande. Aqui também deixo duas que gosto muito: “ Paisagem de interior” e “Parafuso de cabo de serrote”.  


"Confissão de Caboclo", de Zé da Luz
https://www.youtube.com/watch?v=Zlgj8pk26N8

"Ai, se sesse!",de Zé da Luz.
https://www.youtube.com/watch?v=-SV47bqozcg

"Paisagem de Interior", Jessier Quirino
https://www.youtube.com/watch?v=geB3yCT_-bk

"Parafuso de Cabo de Serrote", Jessier Quirino
https://www.youtube.com/watch?v=3FCKtFPxGsI


texto Karen Menatti, fotos de Alécio Cezar.
                                                               Estrada: céu pintado de chuva.
                                                     

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