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segunda-feira, 7 de junho de 2010

Me perdi na poeira das ruas

Karen Menatti

"Por aqui é tanta poeira, tanta terra, que depois de uns quinze minutos você já está com a roupa e cabelos avermelhados e duros,duros ." Ao ouvir esse comentário ( e eu o ouvi diversas vezes durante esse feriado do dia 03 de junho!)respondi " no Concerto também, acaba o espetáculo e a gente espirra tijolo!Eu sei como é morar assim, essa poeira vai impregnando em tudo, na roupa, no nariz...eu sei." Depois que percebi que eu havia respondido com o sentimento e propriedade de quem também vive parte de seu tempo exposto à terra! Como se por alguns instantes eu também vivesse dessa forma.Claro que durante a infância morei em lugares que me levariam a essas lembranças. Mas não me referia a isso,pensava no espetáculo. Será que fazer teatro também é ísso, vivência plena que nos invade como a terra?! Bom,a poeira nos aproximou, os detalhes aproximam sempre! Esses comentários foram feitos em Querência, no Mato Grosso, uma charmosa cidade fundada e povoada na grande maioria por migrantes vindo do sul do Brasil ,descendentes de alemães,italianos...Uma cidade em que a poeira vermelha está em permanente contraste com o céu azul!
Acho que o Concerto é um pedacinho de Assaré,uma "lasquinha" do Caldeirão, um quarteirão de São Paulo (essa última com sua poeira/fuligem preta!),um punhadinho da gente! E enquanto estava por lá , no Mato Grosso , falava por mensagem com Rodrigo que estava em outras terras, as do Crato, respirando a poeira inspiradora!!!
"Tanta coisa que eu tinha a dizer mas eu sumi na poeira das ruas." A poeira agora invade também o novo trabalho do Ventoforte, destrinchando a música de Paulinho da Viola que fará parte do próximo espetáculo. É,tudo se mistura... E durante esse feriado prolongado,sumir na poeira tomou um significado concreto pra mim. Quando a poeira sobe na estrada de terra, ao passar com um carro, por exemplo, tudo desaparece na sua frente como um passe de mágica! Pum!!!Sumiu!!! Um caminhão imenso que transporta soja, um tucano, tudo, tudinho de tudo!Fiquei ali, pequenininha de curiosidade pensando: Se some até caminhão, que dirá o abstrato!!Será? Os amores, as saudades... encontros/desencontros.Será? E se quando a poeira literalmente baixar tudo ainda estiver ali, impregnado?" Aí fica aquela espera da terra baixando...ela confunde os olhos e aguça o desejo de saber o que vem depois quando tudo vai se descortinando diante de você, bem devagar... Algumas vezes, o caminhão e o pássaro haviam mesmo sumido na velocidade das estradas. Outras vezes não!

Poeira.
leva
pára
poeira-depois
poeira-que-foi
Poeira-caminhar
Poeira-não-estar...

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