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quarta-feira, 10 de março de 2010

Contradicões

por Karen Menatti
(Esse texto foi escrito dia 17)

Num dessses dias fomos visitar o Sítio Caldeirão da Santa Cruz do Deserto. Já sabíamos que era uma comunidade afastada do Crato mas eu não tinha idéia do quanto: uns 40 minutos de carro por uma estrada de terra em meio a morros verdes.Isso tudo depois de pegar uma estrada já fora da cidade. Se hoje em dia chegar ao Caldeirão já é complicado, ficamos pensando Rogério e eu , o quanto deveria ser difícil o acesso na década de 30. E mais, no quanto aquela comunidade realmente representava uma ameca, ou não, aos poderosos e fazendeiros da época, ameaca de falta de mão de obra, enfim. Claro que havia o medo/ignorância daquele pequeno conglomerado tornar-se um novo Canudos. Sabemos que eles não estavam armados mas sabemos também que não eram tolos: na primeira invasão três soldados foram mortos a pedradas e pauladas por alguns moradores locais liderados por Severino que não concordava com o Beato ZéLourenco em receber a invasão sem reagir. Eu me pergunto: Se alguém invadisse meu quintal, minha casa, ameacasse minha família, qual seria minha reacão? E, poderiam alguns membros de uma comunidade pacífica, que prega o " orar e trabalhar", reagir de uma forma dita, mais violenta?
Preservacão, auto-defesa! Contradicões humanas!
Ontem paramos em uma rodoviária no caminho de Sobral a Fortaleza e nos deparamos com uma frase escrita numa de suas paredes que falava sobre união. Não me lembro agora exatamente as palavras mas era uma frase bonita, dessas de efeito que nos chamam a atencão.Qual não foi nossa surpresa quando ao descermos os olhos para verificar o autor , vimos escrito Franco. Franco????Seria mesmo aquele Franco? Comecamos a olhar em volta esperando outra frase de autoria de Adolf!!!!!!Seria mesmo aquele Franco? Sendo ou não, o questionamento "contradicões humans" nos abordou novamente, a mim e ao Rodrigo.
Contradicão que se estende à nossa peca também. Pegando como exemplo a cena da abordagem companhia x Patativa; no espetáculo assumimos,criticamos e até "brincamos"com essa possível e constante ingenuidade que existe quando nos deparamos com pessoas ditas notáveis. Sacamos nossas cameras, botamos nossos sorriso de turista deslumbrado no rosto e ficamos quase sempre um tom acima do que pede a realidade dos fatos. Quase uma excitacão exacerbada. Quantas vezes nós atores não nos comportamos dessa forma durante essa viagem,nos colocando numa lente de aumento? Quantas vezes não nos deparamos com nosso comportamento de "estrangeiro" durante esse trabalho/pesquisa/viagem? Não quer dizer que é certo ou errado, bom ou ruim, não quero juízo de valores, só me pergunto se isso é consciente? Mais uma vez o questionamento de como se colocar, se encaixar ou simpelsmente assumir diferencas diante de fatos e posturas divergentes.
Existe um pensamento japonês que diz que o simpels fato de você observar uma flor ela já é alterada. Que o ato de observar já modifica o ser/objeto observado. Acredito que pode ser porque o objeto observado passa do estado de pura existência não qualitativa para o estado em que é interpretado. Aos olhos de quem vê, claro!!!!!!!! Ganha então, adjetivos, verbo e tudo isso à partir do ser observador.o que mostra que qualquer experiência pessoal tem, contraditóriamente , ressonância transferível!
Contradicões!

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