De Porto em Porto, de Fulô em Fulô.
Por Fabiana Barbosa
Mais uma vez a Cia do Tijolo põe o pé na estrada. E assim, andando por esses Brasis (assim mesmo, no plural!) vamos contando um pouco de nós, vamos sabendo um pouco dos outros.
Patativa do Assaré falou de si, falou do mundo. Tecendo rimas com o fio dos mais profundos sentimentos, contou estórias comezinhas, engraçadas, tristes, irônicas e construiu para o mundo a imagem de um sertão antes inimaginado. Sertão colorido, sertão seco, seco d'água, sertão que chora, sertão que ri, sertão que tem seus tropeços. Assim também o sertanejo, assim também o ser humano. Com agudeza, Patativa soube enxergar as múltiplas faces de seu povo e de sua terra. Foi um arauto na defesa dos direitos humanos.
Para mim, defender os 'direitos humanos' é defender a possibilidade de sermos diferentes uns dos outros e podermos conviver num mesmo mundo, interagindo e respeitando nossas diferenças. Mas para tanto, é preciso que um conheça efetivamente o outro com quem tem que interagir e compartilhar. Não dá para relacionar-se com uma imagem pré-concebida do outro, uma imagem que certamente não abarca a totalidade do que é este outro. Então a defesa dos 'direitos humanos' é também o exercício de desmascarar o preconceito.
Um tempo atrás recebi este vídeo Chimamanda Adichie: The danger of a single story | Video on TED.com. Neste vídeo a escritora Chimamanda Adichie fala sobre o perigo de uma 'história única', de como uma única história sobre alguém ou sobre algum povo pode construir uma imagem que não traduz todas as múltiplas camadas que compõem este alguém. Não é que esta 'história única' seja uma mentira, mas sua repetição exclusiva por diversas vezes constrói uma persona que não existe. São estas 'histórias únicas' que alimentam os preconceitos. Os pequenos e os grandes preconceitos.
No ano passado, quando inúmeras manifestações preconceituosas e intolerantes pipocaram na internet motivadas pela eleição da nossa presidenta, me lembrei deste vídeo. Os Brasis não se conhecem. Os inúmeros Brasis que existem no Brasil precisam contar mais as suas múltiplas histórias para que essas violências preconceituosas deixem de acontecer. Por isso o "Concerto de Ispinho e Fulô". Para contar e colher histórias Brasil afora. Como um passarinho semeando de porto em porto.
Quem dera eu pudesse estar voando com esses tijolos por aí...
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