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segunda-feira, 8 de março de 2010

Nova Olinda - Seu José de Eloi

Por Rodrigo Mercadante

Conheci Nova Olinda antes de conhecer Nova Olinda. Conheci- a primeiro pelos olhos de amorosos de Dinho Lima Flor.Tem jeito melhor?Já tinha ouvido falar da Casa Grande, da Lupita, do Rodrigo, de João Paulo, de Seu José de Eloi, do teatro Violeta Arraes. Imaginava cada detalhe, cada esquina descrita por Dinho.

Essa já é minha terceira visita.

Ao chegar perto da igreja, ouvi a voz de Seu José de Eloi cantando o terço.Dinho já me contara um pouco sobre ele. Há uma história belíssima a seu respeito. Contam que um dia ele costurava um vestido de noiva com as janelas de seu quarto abertas. Costurava e cantava. Cantava pra seus santos. Até que viu o perfil de um homem na escuridão, e mais outro e mais outro. Seu José, amedrontado, não parou de cantar.
Os homens ouviram por algum tempo, e se foram. No dia seguinte, o vestido pronto, ficou sabendo se tratar do bando de Lampião em passagem pela cidade!

Me vi um pouco nele. Como seria eu se tivesse nascido em Nova Olinda há 80 anos atrás? Pensei: acho que eu seria um pouco como Seu José de Eloi. Levaria a vida cantando pra espantar as tristezas de um amor obscuro não correspondido.Cantaria como ele as ladainhas para São Sebastião, santo do qual ele é devoto. Talvez não fosse costureiro,pois me faltam os atributos básicos para desempenhar essa profissão, mas estaria irremediavelmente perto da beleza!
Seu José é timido, quase infantil e se amedronta com coisas corriqueiras. O ohar de uma ternura quase insuportável. Quando pedimos para que ele cantasse para nós, primeiro se envergonhou, tentou se esquivar, mas depois cantou com uma beleza extraordinária.
Lorca diria que Seu José de Eloi tem o Duende.

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