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quarta-feira, 17 de março de 2010

Outros espaços

por Rodrigo Mercadante

Juazeiro, Fortaleza e agora, Caruaru. A apresentação de ontem em Caruaru foi extraordinária. Havia 200 pessoas, colocamos o palco em um formato diferente, meio torto, fora do centro, com metade da plateia sentada abaixo do nível do palco e a outra metade sobre o palco. Mesmo assim, o público se manteve atento e participativo, se emocionou, riu como muitas vezes acontece , graças a Deus.Interagia e respondia aos estímulos de uma maneira surpreendente.
(No Crato, fizemos em espaço aberto e a peça se mostrou forte para resistir à prova da rua.)


Cada vez mais me irrito com a ditadura da "precisão", da repetição e da "limpeza". A palavra precisão em teatro pode referir- se a muitas coisas e devido a essa impossibilidade de ser "preciso" a respeito de seu significado, muitas vezes vinculamos essa ideia à uma necessidade de repetir as mesmas "marcas" todos os dias em condições ideais de espaço, iluminação, refrigeração ou não do ambiente, e etc...





Pergunto uma coisa: o que é que se repete no teatro?Essa pergunta aparentemente vaga movimenta em mim uma série de questões sobre a própria natureza da comunicação humana. Comunicar é dizer alguma coisa a alguém! Quando se trata de agregados sensíveis que se movimentam com ideias e imagens, como é o caso do teatro , aí é que a coisa se complica. Não gosto dos espetáculos que pretendem dizer coisas com o objetivo de atingir a todos de forma igual. Talvez o Fantasma da Operá seja capaz disso.... Sua estrutura dramática e musical já é bem conhecida de nossos olhos e ouvidos.´A hora de chorar e a hora de rir. O gosto forjado pelo hábito.


Mas a comunicação de algo mesmos megalomaníaco exige que nos relacionemos com o público e com o espaço de uma forma cuidadosa e singular. Para quem eu estou falando? Que momento é esse em que eu vivo e em que essas pessoas àsquais eu me dirijo vivem?? Se estou falando de Patativa em Assaré, sua terra natal, ou na Av. Paulista, devo falar dele da mesma forma? Não consigo aceitar essa ideia! Isso seria aceitar o teatro que nasce, cresce e morre ao redor de nossos umbigos.


Acho que a relação entre atores e público deve ser cada vez mais "real". Coloco real entre aspas, pois sei que essa palavra pode gerar mal entendidos. Por real entendo aquela relação que leva em consideração o presente, o momento em que se dá o espetáculo, o movimento gerado por ele in loco, podendo modificar assim , diante dessas demandas, até mesmo a estrutura do espetáculo. As convenções são explicitadas, os erros são parte integrante e desejada do dele. É assim que ele cresce e gera significados.


Existe uma expressão de Deleuze que diz : o que retorna sempre é a diferença! O eterno retorno da diferença!



Quando escuto um ator preocupado com ninharias cênicas sempre me pergunto: será que esse sujeito acha mesmo que esse tipo de preocupação realmente é o que interessa em teatro? Amaldiçoo a palavra precisão até minha última gota de sangue. E , aquele ator que tem medo de errar e se adaptar, é um tipo de artista fadado a desaparecer. O teatro deve à possibilidade do erro a condição de sua existência.

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