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sexta-feira, 26 de março de 2010

Católico demais- Cia do Tijolo em Recife e Olinda

por Rodrigo Mercadante

Ontem foi um dia especial.Decidimos ir à oficina do Francisco Brennand no bairro da Várzea no Recife.Já conhecia o espaço, estive lá muitas vezes e tenho que confessar que é um dos lugares que mais amo na vida. Sou completamente apaixonado por aqueles trabalhos! Tão sensuais, ancestrais, brutais! Senti falta do Rogério,queria que ele estivesse conosco. Na volta para o hotel em Boa Viagem havia uma manifestação em uma comunidade próxima ao hotel. Haviam prendido uma senhora, suspeita de ser uma das chefes do tráfico de drogas de lá. A população se revoltou e fechou o acesso a Boa Viagem.Fomos parar em Olinda, mais precisamente no Bar da Noca, conhecido por sua macaxeira com carne de sol e queijo de coalho. Uma coisa dos Deuses. Quando estávamos saindo, demos de cara com uma procissão, daquelas com velas acesas dentro de lâmpadas de papel, homens vestidos de casacos lilázes e um carro com uma cruz atravessada por dentro, representando o corpo morto de Cristo. Era a procissão do encerro. Uma multidão caminhava e cantava nas ruas de Olinda.Me lembrei tanto de Minas!No alto da igreja da Sé, um menino tocava o sino! Entramos na igreja emocionados e, qual não foi a minha surpresa ao ver que Dom Helder Câmara está enterrado alí. O Bispo Vermelho que disse uma vez: " quando dou pão aos pobres, me chamam de santo.Quando pergunto por que os pobres não tem pão, me chamam de comunista"...
Saí de lá tão católico!!!! Acho que sou mesmo uma pessoa fora do sincro. Sempre suspeitei disso. Desde muito cedo , suspeito de toda religião e principalmente dessa espiritualidade pós moderna que acende vela pra todo mundo, e troca a crença no Deus católico por uma crença em qualquer coisa tola que dizem. Sempre detestei a religiosidade e estou com Freud e não abro!Mas, de um tempo pra cá, sinto uma necessidade de fazer as pazes com a tradição de minha família.Não voltar a crer, mas me reconciliar e conviver amigavelmente com essa parte de mim mesmo. Descobri por exemplo, que conheço de cor quase todo o ritual da missa, assim como muitas canções religiosas. Sou fascinado pela vida dos santos e pela arquitetura das igrejas. Acho algumas passagens da Bíblia muito comoventes e amo Tolstoi, Dostoievisk, Bernanos, Adélia Prado, e todos esses escritores que trazem esse Deus tatuado na carne, no verbo e nas letras.
Ai meu Deus! Mas como voltar a me reconhecer católico, logo agora que padres são desmascarados, o papa tem sua reputação abalada por fazer vista grossa ao comportamento desprezível dos pedófilos?
Acho que é justamente por isso! Tenho a tendência de levar à sério aqueles que foram desmascarados. Acho esses mais humanos. Aquele cujas costas suportam a cangalha da perfeição são orgulhosos e soberbos demais. Não podem ensinar nada a ninguém e nem devem faze- lo. São como virgens ensinando a amar.
Não estou defendendo padre nenhum aqui! Se forem mesmo culpados, cadeia neles. Mas, olhar a face humana da igreja, permite que eu goste um bucadinho mais dela. E ambos, eu e ela, tão cheios de pecados humanos, demasiado humanos, talvéz possamos conversar mais amigavelmente.

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