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domingo, 26 de julho de 2015

Da Paraíba até Pernambuco ou O(s) Garoto(s).

Da Paraíba até Pernambuco ou O(s) Garoto(s).


Miguel e o Patativa-fulô.

O Garoto, do Chaplin, da à pequena televisão sua função. De onde estávamos não conseguíamos assistir ao filme. Apenas a trilha nos acompanhava. É que era o banco da frente, naquele lugar que habita o janelão de horizonte. Estávamos ali , quatro de nós e não enxergávamos a tela. O ônibus que nos conduz tem dois andares. A perspectiva é grande. Na frente um caminhão vermelho que parece de brinquedo leva inscrito: água potável. Um misto de facheiros e mandacarus da paisagens e violinos do filme. Somos garotos aqui na frente brincando de adivinhar nuvem, brincando com céu, como lembrou Dinho. São pedras com cara de cobra, nuvens que formam mapas. Um verde sem fim leva em seu meio detalhes de árvores secas, todas juntinhas, formando copa baixa. Fica tudo etéreo. Ou seria a trilha? Os nomes da cidades são poesia pura: Soledade, São José da Mata, Pocinhos, Puxinanã , Galante. Comemos Tareco, uma delícia daquelas que dá vontade de comer o saquinho inteiro de uma só vez, meio assim, amanteigado. Ter dois garotos com a gente faz a gente ser assim, meio garoto também. Estamos viajando por essa estrada tem duas horas e meia e faltam talvez mais duas e meia. É  tanto morro, tanto milho nas vendinhas de beira de estrada, tanta pinha. Boca d`água! Vimos três cemitérios de automóveis. Num deles um carro formava  figura. Era a de um homem atrás de uma mesa, atrás de uma pilha de papéis, atrás de um corredor, nos fundos de uma repartição pública. 
Bela a estrada que leva a Paraíba até Pernambuco. 
Avistamos uma placa: Aqui tem almoço, janta e mocotó. Paramos pra comer, não ali na indicação da placa mas um pouco adiante. A trilha do Chaplin continua...

Na volta muitas pedras de todos os tamanhos no caminho.
Miguel o os Ispinhos e Fulô.
Tem-se a impressão que dali pode sair qualquer figura escondida. Também muitas borboletas , muitas flores amarelas no canteiro natural da estrada, muitos passarinhos.Um deles bate contra o nosso vidro.
Nem tudo é  fulô.

"É nascê, vivê e morrê nossa herança naturá/todos tem que obedecê sem tê a quem se queixá/Foi o autõ da natureza com seu pudê e grandeza quem traçô nosso caminho/Cada quá nessa estrada tem nessa vida penada pôca fulô e       muito ispinho".                                                                                                                                                                 


 Esses são alguns desenhos de Theo e Miguel.  Os dois garotos nos surpreendem a cada dia!  




                                                                     Theo e a fulô.


                                                                Miguel e o Caldeirão.

texto Karen Menatti.

sábado, 25 de julho de 2015

Cia do Tijolo presta homenagem ao pedagogo Paulo Freire em Pernambuco

Os Correios apresentam Concerto de Ispinho e Fulô – Patativa do Assaré: um abraço e um bordado. Concebido pela premiada Cia do Tijolo (SP), o espetáculo dá início a uma circulação nacional percorrendo sete estados e 13 cidades brasileiras com o propósito de disseminar a inigualável obra do poeta Patativa do Assaré, construindo assim uma espécie de cartografia literária afetiva do sertão.



Pernambuco recebe o espetáculo no período de 25 de julho a 1 de agosto, momento em que Patativa abraça o pedagogo Paulo Freire e os poetas pernambucanos. No dia 25 de julho, terá apresentação do “Concerto de Ispinho e Fulô” em São José do Egito, no sertão do Pajeú para homenagear a terra da poesia e os poetas pernambucanos.


Em seguida a Cia do Tijolo pega estrada rumo à Recife para homenagear Paulo Freire. Primeiro com o Workshop de Dramaturgia no dia 28 de julho; e depois com apresentações do “Concerto de Ispinho e Fulô” nos dias 29, 30 e 31 de julho. Todas as atividades em Recife acontecem no Teatro Hermilo Borba Filho, com entrada franca e classificação de 14 anos.

REALIZAÇÃO

A circulação nacional do “Concerto de Ispinho e Fulô – Patativa do Assaré: um abraço e um bordado” conta com a coordenação geral das empresas EmCartaz Empreendimentos Culturais e Spiral Criativa, ambas do Rio de Janeiro e integrantes da Incubadora Rio Criativo.

APRESENTA




quarta-feira, 22 de julho de 2015

Aqui em Itabaiana chove.


Aqui em Itabaiana chove. Chuva intermitente. ficamos recolhidos: é dia de regar.
Da sala vem o som da viola caipira de Maurício. Viola doída, chorada feito pingo. Na cozinha conversas de encosto de pia, daquelas que um pé levanta, feito galinha contemplando a vida. Dinho e Cris fazem o café. Preto, forte. Silêncio na casa. Estamos numa casa-pousada. Somente nós aqui. Dicinho na sala também. Do colchão onde sou não o vejo. Não sei o que faz, talvez estude, talvez descanse. Não vejo os outros também mas sei da viola pelos ouvidos e do café pelo cheiro. Alguns dormem. Marcos e Rodrigo. Nos fundos dessa casa tem uma goiabeira. Na frente um pé que não sei de que é. Mas tem umas espécies de brotos imensos vermelhos que vivem em cachos, como nós. Tem cachorro latindo e tem criança jogando bola na rua estreita. Também um galo que canta.O som vem de longe, bem longe.Apesar da hora. Começo a desconfiar que essa história que os galos cantam quando nasce o dia é bobagem. Quase reducionista. Acho que os galos cantam quando querem, como nós. São três horas e trinta minutos. É dia vinte e dois de junho.Aos poucos as saudades vão adentrando feito mosquito pela janela. Aqui tem muito. Mosquito e saudade.

E seguimos cantando e seguimos ouvindo:

https://www.youtube.com/watch?v=9wBVlE67QXM


Karen Menatti

Meu Assaré amado!

Meu Assaré amado! 




“Gravador, o que gravas aqui nesse ambiente
Tu gravas a minha voz, o meu verso e o meu repente
Mas tu não gravas a dor que o meu peito sente.
Tu gravas em tua fita com a maior perfeição
O timbre de minha voz e minha fraca expressão
Mas não gravas a dor grave gravada em meu coração
Tu és feliz e ai, de mim o que será!
Bem pode ser desgravado o que em tua fita está
Mas a dor do meu coração jamais se desgravará.”


 Lá a brisa é fresca, constante. “Teus vento assopra manero durante os teus mêis de estio.” Lá apresentamos na praça principal, na frente da Igreja Matriz ao lado do Memorial do Patativa do Assaré. Lá tudo respira o poeta. As placas indicando os nomes das ruas tem sempre um verso seu e também o desenho do seu rosto, sempre de óculos e chapéu. Lá a rodoviária recebe seu nome, a praça, a escola.  Lá durante a montagem, uma revoada de pássaros fez balé nas nossas cabeças. Muitas. Muito canto em cada canto das árvores.


Lá estavam tantos! Praça repleta de outros de nós.As crianças, os filhos do poeta, netos, sobrinhas e dentre eles Seu Geraldo Alencar. Este é também poeta e improvisador. 

Quando Seu Geraldo era menino (no tamanho, pois ainda continua sendo um menino brincalhão) mostrava seus poemas para seu tio, Patativa. Diz que uma vez foi assim: - Soube que você tá escrevendo poema.
-Sim, respondeu Geraldo.
- E tem algum bom? Tem algum que preste?

Patativa era danado! E mais tarde quando leu seu poema “Pergunta  de Morador” ficou pensativo. Leu e depois de um tempo achegou-se a Seu Geraldo: - Você me permitiria fazer uma resposta praquele verso seu? E dali saiu o poema “Resposta de Patrão” e também uma amizade que durou toda a vida. Uma amizade fraternal mas sobretudo poética. Os dois costumavam se encontrar para brincar de mote, pra brincar de glosa.



Partilhamos dessas lembranças com Seu Geraldo em sua casa ali pertinho da praça principal, em Assaré. Partilhamos com nossas máquinas fotográficas, filmadoras, perguntas, desejos, alegrias, olhares e aquele tom um pouco acima do natural, aquele de quem vê quem se admira na frente. Estávamos ali como na cena da peça, naquela em que abordamos Patativa, dizendo que viemos de São Paulo e que queremos montar uma peça sobre a sua vida e sua obra. Éramos nós ali, nesse lugar do que vem de fora. Pronto. Foi o início de uma longa e boa conversa entre nós. Mais uma das muitas boas conversas. Não fomos invasivos de forma alguma mas quando se tem câmera nas mãos o conflito está posto entre a naturalidade e a forma. Mas diante da feitura de um documentário, os registros são necessários e então o impasse aparece. Que tipo de pergunta temos que fazer? Devemos conduzir o contato e as   considerações para manter um roteiro? E que bom, que os meninos na ação concreta "camerística",  Alécio, Vina e Flavio têm cabeça daquelas de jardim, que ora outra brotam sementes levadas pelos pássaros e ora ou outra também aquelas regadas no cuidado diário. Esse  barco de câmeras que estão manejando  está  proporcionando para o nosso documentário momentos, encontros e significados lindos. Pensamos e falamos e pensamos e pensamos sobre deixar o espaço vazio, talvez o maior deles para que o inesperado venha à tona. Para que nos silêncios brotem o que precisa ser dito e gravado naquele momento eterno. Mesmo que esse “não grave a dor que meu peito sente”. Se de um lado, por mais carinhosos e abertos que sejamos, nos sentimos por vezes “o de fora” por outro lado, as pessoas que registramos podem parecer “os que querem falar.” E talvez esteja tudo bem mesmo esse questionamento porque o desejo é legítimo de ambos os lados, assim como os propósitos com tudo isso. O tempo curto não nos permite o convício que gostaríamos. Mas diante da realidade na qual vivemos é esse espaço que temos e é com ele que temos que lidar. É ele que nos é dado. Assim foi com o tempo curto que tivemos para concluir o cd e o livro. Se tivéssemos “feito a conta do tempo” não teríamos feito nem um nem outro. Mas topamos a aventura porque sabíamos que o momento ideal não existe. 
E nesse tipo de viagem vamos nos questionando. E vamos também reafirmando algo em nós que vai além dos nomes. Acho que porque vamos pisando nessas terras poéticas e porque vamos encontrando pessoas e porque vamos nos perdendo da segurança prevista, daquela segurança umbilical que por vezes nos enlaça. Havia uma placa lá na Beatos, no Crato, que dizia algo como “o lugar é onde escolhemos estar. É afetivo e tem história e construção diária.” Não era bem isso não o que estava escrito mas foi o que me ficou. Conversávamos esses dias, Fabiana e eu sobre isso. Lugar é onde pisamos.

Quase ingênuo, quase romântico, quase assim...



Estar em Assaré é como ir morar direto na pausa que tem dentro da gente. Naquele pequeno vão em que ecoam asas.
Naquele lugar onde moram crianças-poetas adormecidas, cochilando com o mormaço da tarde quente. É como querer andar e andar tanto até virar vento.


Obrigada, meu Assaré amado.



As fotos são de Flavio Barollo.


                                                               
Na frente da casa de Seu Geraldo de Alencar.

   Texto Karen Menatti.

sábado, 18 de julho de 2015

Cia do Tijolo visita a Paraíba, momento para homenagear os poetas Zé da Luz e Zé Limeira


Os Correios apresentam Concerto de Ispinho e Fulô – Patativa do Assaré: um abraço e um bordado. Concebido pela premiada Cia do Tijolo (SP), o espetáculo dá início a uma circulação nacional percorrendo sete estados e 13 cidades brasileiras com o propósito de disseminar a inigualável obra do poeta Patativa do Assaré, construindo assim uma espécie de cartografia literária afetiva do sertão.



A Paraíba recebe o espetáculo no período de 18 a 23 de julho, momento em que Patativa abraça os poetas Zé da Luz e Zé Limeira.  
Primeiro em João Pessoa, nos dias 18 e 19 de julho,  com apresentações do Concerto de Ispinho e Fulô no Teatro Paulo Pontes. E no dia 20 de julho acontece o workshop de dramaturgia no Auditório 3 da Funesc, na capital paraibana. Essa atividade é voltada para alunos de teatro, artistas e pessoas interessadas em conhecimentos cênicos.
Em seguida a Cia do Tijolo pega estrada de novo rumo a Itabaiana. Na cidade onde nasceu o poeta Zé da Luz, o espetáculo presta homenagem aos poetas e repentistas paraibanos, com apresentação do Concerto de Ispinho e Fulô, no dia 23 de julho, no Salão Maison Finesse.

Todas as atividades têm entrada franca e a classificação é de 14 anos.

REALIZAÇÃO


A circulação nacional do “Concerto de Ispinho e Fulô – Patativa do Assaré: um abraço e um bordado” conta com a coordenação geral das empresas EmCartaz Empreendimentos Culturais e Spiral Criativa, ambas do Rio de Janeiro e integrantes da Incubadora Rio Criativo.

APRESENTA



sexta-feira, 17 de julho de 2015

Sítio Caldeirão da Santa Cruz do Deserto

Sítio Caldeirão da Santa Cruz do Deserto



Sob o céu estrelado paramos na estrada. Poeira nos olhos, um pouco de frio. Nebulosas  e estrelas tão infinitas quanto o silêncio. Silêncio esse quebrado por uma ou outra risada. Ou muitas, às vezes muitas. A van não subia. Estrada de chacoalhar gente.  Até chegar o caminhão para puxá-la com uma corda ficamos ali, a cachaça na mão, o infinito nos pés. Nossa volta foi assim. Teria que ser especial.Estávamos em terras de Beato Zé lourenço.

O entardecer no Sítio Caldeirão da Santa Cruz do Deserto é único. Clichê, mas sim , é único. Aquele alaranjado que brinca com o céu de algodão doce, num salpicado sem tempo, sem pressa, sem expectativa. Seu Raimundo, o cuidador do Caldeirão mora lá, com Dona Maria e os cachorros. Teve 14 filhos. Está lá no tempo sem tempo de quem diz com as letras do olhar aguçado: “Aquele que não trabalha sempre quer comer mais do que aquele que trabalha, num é?” É. Também acho.  Seu Raimundo e Dona Maria! Emprestaram sua casa, seu chão pra receber a gente. Assim como Dane de Jade com sua Beatos nos deu as mãos, a alma, a ajuda para conseguirmos realizar esse ponto-cruz do nosso bordado. “Se eu me chamasse Raimundo seria uma rima não seria uma solução”

“Vou contar uma istóra que eu num sei como cumece.” É que o desejo de dividir aqui vai e vem como se estivéssemos com essa experiência atravessada no peito, feito faca-flor.


Do público, das crianças.
Não consigo achar uma palavra à altura. A cada caminhão, cada carro que traziam as pessoas, cada um que ali descia...  Foram amigos que chegaram, os de longa data e os de agora. Tivemos a alegria de ter na plateia os companheiros do Assentamento 10 de abril, do MST. As senhoras e senhores que com seus suores rasgaram caminho para a redescoberta do Caldeirão. Vieram grupos de teatro, jovens e crianças. Novamente as crianças. Agora Theo e Miguel também tem seus chapéus e vozes dentro da lona. Ontem Miguel , de dez anos de idade e provavelmente 60 de sabedoria, disse estar nervoso com sua estreia. Imaginem, estrear no Caldeirão, a céu aberto, olhando as milhares de estrelas que ás vezes pareciam  despencar do céu. (insisto nelas porque nos acompanharam durante essa travessia). É pra poucos Miguel, o bom encontro que você teve com essa espécie de benção humana.  Theo também nos indicou o caminho até a casa do poeta Antonio Gonçalves da Silva. Assim, sem ensaio, com aquela disponibilidade que o brinquedo tem, entrou no palco com seu chapéu preto e apontou: “A casa do poeta? É só virar a esquerda e seguir direto.É ali!” . Obrigada Theo, seguimos seu conselho e chegamos lá.  As crianças agora é que “arrumam o Brasil” na cena em que recolocamos os sinos no contorno do mapa, depois do conflito. Será mesmo isso? Uma metáfora concretizada na forma- conteúdo da criança que arruma um país depois de seu desmanche. Talvez seja cíclico.  Talvez assim mesmo, como disse um jovem rapaz no final da peça. Segurando um sino-chocalho tomou a palavra para dizer que se sentia com o futuro nas mãos. 

Da poeira no horizonte.
Imaginar que houve essa mobilização é de marejar os olhos. Digo isso porque o Caldeirão da Santa Cruz do Deserto fica distante da cidade. Embora no Crato, está localizada num vale de beleza pura, morros, rios, açudes. “Eu nasci ouvindo os cantos das aves da minha terra, e lendo os lindos encantos as aves bonita encerram.” Uns bons 40 minutos de carro da estrada até lá. Um caminho de terra, arrudiada de verde. Portanto, quem foi até lá se preparou para o encontro. Não há condução pública. Foi um combinado entre as instituições, entre a secretaria de cultura do Crato, na voz de Dane de Jane e de muitas pessoas que a ajudaram. Portanto também uma contradição pensar que ali, naquele local afastado morreram em torno de 1.000 pessoas. Qual perigo concreto essa comunidade oferecia? Na década de trinta chegar por essas
paragens provavelmente era ainda mais complicado. Oferece perigo um povo que “ora e lavora”? Que planta sua comida, que vive essa espécie de auto- gestão distante da grande cidade? Do ponto de vista de quem perde sua mão de obra escrava ou semi-escravagista (se é que podemos chamar assim) é uma afronta. Melhor mandar mandar matar, não é? “Mas eles não tem armas?” Poderia ter indagado alguém. De que importa! No final das contas sabemos que muitos irão dizer que os matutos da região inventaram tudo isso,” inventaram essa história quando viram um avião passar atirando em umas vaquinhas, e aí, sem querer os tiros acabaram pegando em algumas pessoas”, como chegamos a ouvir uma vez de um homem que nos acompanhava. Sempre encontra-se um jeito de distorcer a voz de quem lê as “coisa da vida”. Mas como numa microfonia insuportável ela acaba incomodando alguns, com sensibilidade na audição histórica.  Ou nas mãos, como do pessoal do assentamento que reencontrou o caminho para o Caldeirão, que claro, tem a parecência dos que lutam contra esse sistema cruel no qual vivemos.

“Por aqui ninguém passou, ninguém chegou nem viu aquela cena de horror que um rico nunca assistiu.” 




Dos momentos.
Ali no chão do Caldeirão também encontramos a Baleia do Graciliano. Talvez tenha sido nela a inspiração tardia do poeta. Essa Baleia, por nós assim batizada, magra, mancava de uma perna. Havia sido atacada por um tamanduá. As unhas do bicho cravaram sua pata. Seu Raimundo teria que cortar alguma pata; cortou a do tamanduá para salvar o cachorro. Preferiu sacrificar o maior em razão do mais fraco. Ela atravessou a cena enquanto nós nos sentíamos atravessados pelos antecessores daquele solo.
Ali naquele chão ficamos tentando compreender a acústica acolhedora do lugar. Podíamos falar baixinho, sem esforço que éramos ouvidos em qualquer parte  do terreiro em que montamos a peça. As vozes, os instrumentos chegavam até as estrelas e voltavam pra nós. Sem esforço, sem obstáculo. A placa da nossa rádio Caldeirão foi fincada no telhado da casa vernacular: de um lado a casa e do outro a Igreja Matriz reformada.  Ao olhar meus amigos e companheiros de cena na frente daquela casa a imaginação voava longe; eram todos eles caldeirões. E eu também. Um caldeirão que pode ser duro por fora mas que tem água por dentro. Tem casca dura para levar líquido vital. Água que hoje tem dono, paga-se caro e fica-se sem. É preciso a casaca dura para aguentar o tranco. 

Ali no chão cantamos Ave Maria. E dessa vez na frente de outra Igreja: a matriz de Assaré agora tornou-se a Igrejinha do Caldeirão. Ali o sino tocado por Maurício Damasceno com seus belos apetrechos de percussionista virou realidade.  Tocou então o sino da Igreja, no alto da escadaria de entrada. As badaladas do sino da Igreja ecoavam naquele vale de entro de cada um de nós.


Dos amigos.
A construção de uma peça nunca é só e nunca é rápida. São necessários muitos encontros, brigas, descobertas, risos e sobretudo o inusitado e a afeição mútua pelo que vai ser falado. É preciso que o tema goste de você assim como você dele. Cantamos no Caldeirão com e para nossos amigos que não puderam colocar suas vozes ali mas estavam em cada tijolo por nós montados.
Cantamos para Jonathan Silva, Aloísio Oliveira, Thaís Pimpão, Rogério Tarifa, Danilo Mora,  Lilian de Lima, Silvana Marcondes, Juliana Gomes, Frei Betto, Paulo Freire,  Ilo Krugli, Ana Maria Carvalho.
Cantamos com Cris Raséc, que teve sua família não só em Fortaleza mas também ali no Caldeirão. Reencontrando os seus. Reencontramos Monique, Dadá. Amigos de chão e coração.
Cantamos com os meninos que ainda hão de vir.



Das despedidas.
Enquanto escrevo esse texto estamos nos encaminhando para a Paraíba, especificamente para João Pessoa. Uma viagem  longa , que leva entre 10 a 12 horas dependendo do inesperado. Uma viagem longa como esse texto. Mas de fato acho que são importantes as escritas longas também. Numa conversa para uma entrevista que demos para uma amiga querida em Fortaleza, a Roberta Bonfim, ela nos contou que durante uma pesquisa foi descoberto que o tempo que uma pessoa se “prende a uma leitura” ( como se fosse castigo, prender, de amarrar!)  na internet é de 10 minutos, no máximo. Ficamos todos assustados, inclusive ela. Num mundo em que é bonito ser efêmero isso não seria de se surpreender. Mas continua me surpreendendo. E às vezes tem que ser longo porque é o tempo da maturação, da pista cheia de curvas, tempo de partir que parece infinito e curto ao mesmo tempo. Nessa apresentação nos encontramos com Thiago França que tocou e brincou e já seguiu viagem. Logo mais nos encontramos. Talvez Recife, talvez Maceió. Nos despedimos de Martha, nossa produtora que nos acompanhou com sua beleza e carinho durante essa primeira estada. Logo mais nos encontramos. Talvez BH, talvez Recife. Nos despedimos também de Flavio Barollo que nos acompanhou para o documentário que estamos criando. Logo mais nos encontramos. Talvez Recife, talvez São Paulo. Ele, que é meu companheiro de amor, deixa um pedacinho de mim assim... vazio. Viro metade. Mas é assim, a casca durinha e água vertendo. 
Na metade desse texto avistamos uma placa com a chamada da próxima cidade : Barro. “Debaixo do barro do chão da pista onde se dança...” E agora no seu finalzinho já avançando pela Paraíba somos acompanhados pelo filme Cine Paradiso que passa na pequena tela do ônibus.

Ponto do bordado Ceará.

Ali, no Caldeirão da Santa Cruz do Deserto fomos atravessados. Suspensão de tempo.
Obrigada! Agradecimento profundo por estarmos ali.

“Quem foi que falou que o Caldeirão acabou?
É bom avisar, Caldeirão nunca vai acabar!”






 "Sempre digo, julgo e penso 
 que o Beato Zé Lourenço foi um líder brasileiro
 que fez os mesmos grandes estudos
 que o nosso herói de Canudos
 Nosso Antônio Conselheiro." 





As fotos dessa página são de Flavio Barollo.













texto Karen Menatti.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Fortaleza- O Tempo.


Fortaleza - O tempo.

Desenho feito por um jovem rapaz que assistiu ao Concerto em Fortaleza.

Depois de 08 horas de ônibus chegamos de Paulo Afonso, Bahia. Depois de 05 horas de avião chegaram
                                                              Theo. foto Flavio Barollo.
de São Paulo. Duas turmas. E dessa vez com uma junção diferente de pessoas, novos olhares . Lembrei de quando viajamos para o circuito do Miriam Muniz, em 2010, que passava pelo Ceará e Pernambuco. Fabiana Barbosa não pode nos acompanhar por conta de seu pequeno Theo. Na época bebê, recém chegado nessas bandas. Ele que até o oitavo mês brincou de Patativa dentro da sua barriga , agora está aqui brincando, contando histórias com seu irmão Miguel, dando recados, montando cenário, rindo... O tempo. Nessa roda agora temos essas alegrias das descobertas inocentes e curiosas ao  nosso lado. Talvez seja para dar um respiro, ou uma lembrança de que o tempo caminha, apesar de nós.                                                                           
  
                                                            Miguel. foto Flavio Barollo.

No Centro Cultural Banco do Nordeste aportamos. Ficamos em um espaço cercado por rotundas pretas, com vãos nos lados deixando aquela brisa de mar refrescar um pouco o calor intenso daqui, embora inverno.  Três apresentações lotadas, muitos encontros e reencontros. Reencontro com Juliana Gomes, nossa produtora durante alguns anos e amiga querida  que agora se afastou para gerar o rapazote que habita sua barriguinha de seis meses. Encontro com Dona Leonarda, delicada mulher, neta de moradores do Caldeirão da Santa Cruz do Deserto. Seus avós estavam lá no dia do bombardeio. Os dois tiveram que se separar e um foi pra Pernambuco e outro pra outra cidade dentro do Ceará . Não mais se encontraram. Um achava que o outro havia morrido que suas histórias e corpos haviam sido soterrados pelo tempo. Passaram-se 20 anos. Se reencontraram e então o suspiro de alívio por estarem vivos. 
Juliana Gomes. foto Flavio Barollo.

Por aqui começamos a filmar nosso documentário: na estátua em tamanho natural do Patativa ali no lindo Dragão do Mar, no pier que conduz ao mar azul, ou verde ( ou os dois), no Teatro José de Alencar. E nesse último, um dos nossos desejos foi realizado: o de cantar nesse belíssimo espaço que carrega consigo histórias do nosso país. Como a de Mauro Coutinho que foi a primeira pessoa a receber o DRT de sonoplasta no Brasil. Seu Mauro respira o teatro. Quando fala , quando caminha, temos a certeza que carrega a alma daquelas paredes, daquele chão. Aqui no Ceará existe esse aconchego e somos tão ligados a esse estado que nos sentimos daqui. Com o coração também aqui.
O tempo... É o que nos "arrudiô'  nesse trecho do caminho. E através dele nos encontramos naquele vão entre o olhar inocente e o olhar curioso de uma criança de 10 anos. Como os de Miguel. Talvez não mais naquele tempo dilatado que absorve o mundo, ali, infinito diante dos pés. Mas nas passadas mais calmas que tentam achar porto e  rotas ideais (ou pelo menos tem a tentativa de).  Maças "amaduradas".
Que o trajeto seja pleno.Que a viagem seja boa.


"Um dia eu senti um desejo profundo de aventurar nesse mundo pra ver onde o mundo vai dar.
                  Cante lá que eu canto cá, no Teatro José deAlencar.
foto Flavio Barollo.
Saí do meu canto na beira do rio e fui pra um convés de navio seguindo pros rumos do mar. Pisei muito porto de língua estrangeira, amei muita moça solteira, fiz muita cantiga por lá. Varei cordilheira, geleira, deserto, o mundo pra mim ficou perto e a terra parou de rodar."








                                                                 Em Fortaleza, CCBN. foto Alécio Cezar.




















segunda-feira, 6 de julho de 2015

Correios apresentam "Concerto de Ispinho e Fulô" - Circulação Nacional

Correios apresentam “Concerto de Ispinho e Fulô” -Patativa do Assaré: um abraço e um bordado-



Os Correios apresentam  a circulação nacional do espetáculo Concerto de Ispinho e Fulô – Patativa do Assaré: um abraço e um bordado, da Cia do Tijolo. A circulação percorrerá sete estados e 13 cidades brasileiras com o propósito de disseminar a inigualável obra do poeta Patativa do Assaré, construindo assim uma espécie de cartografia literária afetiva do sertão.

A grande abertura do circuito acontece no Ceará, momento em que Patativa abraça a sua terra natal. Com apoio da Secretaria de Cultura e do Governo do Estado do Ceará, Concerto de Ispinho e Fulô se apresenta, nos dias 9, 10 e 11 de julho, em Fortaleza, no Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBN), com entrada gratuita.

Em seguida o espetáculo segue para Assaré onde se apresenta, no dia 15 de julho, no Memorial Patativa do Assaré. Ali na terra onde nasceu o poeta a Cia do Tijolo realiza um bate papo com artistas e a população local sobre a montagem do concerto e a obra do poeta.

No dia 16 de julho, o espetáculo faz apresentação no Crato, no Caldeirão da Santa Cruz, para homenagear o beato José Lourenço e mostrar o engajamento político do poeta Patativa.

UM CONVITE A INFINITOS ABRAÇOS



Patativa foi um brincante da palavra, que deu forma visível às belezas e misérias do Cariri, falando da sua realidade local e do sertão para falar do humano. Na dramaturgia construída pela Cia. do Tijolo, o poeta abraça vários artistas que também ajudaram o Brasil a pensar o sertão e a construir parte da nossa identidade nacional. Patativa abraça o sertão metafísico de Guimarães Rosa; abraça Fabiano e Sinhá Vitória nas palavras secas de Graciliano Ramos; abraça os repentes certeiros de Zé Limeira e Zé da Luz; abraça o sertão duro e mítico de Euclides da Cunha.

Desse modo, Concerto de Ispinho e Fulô faz uso da poesia para criar e desconstruir, ensinando o público a olhar para si mesmo de outras formas, olhar para a sua origem, cosendo e descosendo identidades, exercitando a liberdade, e conhecendo um pouco mais da história do país.

O espetáculo é um “concerto musical” – encenado e cantado por meio de músicas de compositores brasileiros, como Luiz Gonzaga, Hermínio Bello de Carvalho, Nelson Cavaquinho, além de composições próprias da Cia do Tijolo.

Ganhador do Prêmio Shell 2009 na categoria Música e do Prêmio CPT 2009 na categoria Projeto Sonoro, Concerto de Ispinho e Fulô traz na sua bagagem a incrível marca de 200 apresentações em mais de 60 cidades do Brasil e algumas do exterior, sendo visto por cerca de 40 mil pessoas.

CIRCULAÇÃO NACIONAL

Os Correios apresentam Concerto de Ispinho e Fulô que realizará uma circulação em nível nacional, percorrendo sete estados e 13 cidades brasileiras – sempre visitando uma capital e uma cidade de pequeno porte, cuja história dialogue com temáticas mobilizadas pelo espetáculo. Serão 30 apresentações gratuitas, seguidas de workshops e bate papos, com o objetivo é descentralizar a oferta cultural do país, divulgando a poesia de Patativa para um público aproximado de seis mil pessoas.

O formato da circulação foi idealizado pela Cia. do Tijolo para percorrer fisicamente os caminhos que Patativa do Assaré percorre em seu percurso dramatúrgico. Assim, a circulação começa no Ceará, primeiro em Fortaleza e depois segue para Assaré – a terra de Patativa, e para o Crato para homenagear o Beato José Lourenço; em seguida entra na Paraíba para abraçar os poetas Zé da Luz e Zé Limeira em Itabaiana e João Pessoa; o terceiro estado é Pernambuco, ali nas cidades de São José do Egito e Recife acontece o abraço a Paulo Freire – o pensador que criou uma pedagogia que dialoga diretamente com os saberes de Patativa e a forma que encontrou para nomear o mundo e dele tirar suas belezas.

A circulação continua por Alagoas, em Maceió e Palmeiras dos Índios para abraçar o escritor Graciliano Ramos; depois segue para Bahia passando por Feira de Santana, Salvador e Canudos para homenagear Antônio Conselheiro. Em seguida entra no sertão das Minas Gerais, e visita Belo Horizonte e a pequena Cordisburgo para abraçar o grande escritor João Guimarães Rosa. O espetáculo termina sua circulação no Rio de Janeiro para abraçar Euclides da Cunha e sua obra “Os Sertões”.



 “Na busca de querer saber quem nós somos, ‘Concerto de Ispinho e Fulô’ é uma preciosa ajuda”. (Trecho da crítica de Barbara Heliodora. Em: O Globo, 27/04/2012).

WORKSHOPS E OFICINAS




Em cada estado, além das apresentações do Concerto de Ispinho e Fulô, haverá encontros com grupos da região, intercâmbios para troca de experiências, workshops de dramaturgia nas capitais e debates com temas específicos em todos os locais de apresentação.

Essas atividades fazem parte do processo de produção do conhecimento da Cia. do Tijolo, que sempre busca dialogar com os artistas locais, construindo novas redes, processos e espaços de criação coletiva.

A seguir a lista dos encontros:

8/julho | Fortaleza (CE) – Workshop de dramaturgia - Local: Teatro José de Alencar
15/julho | Assaré (CE) – Após o espetáculo / Debate: Patativa do Assaré e bardo sertanejo
17/julho | Paraíba (PB) - Após o espetáculo / Patativa abraça Zé da Luz e Zé Limeira 
20/julho | João Pessoa – Workshop de dramaturgia - Local: Auditório 3 da Funesc (acesso rampa 1) 
23/julho | Itabaiana (PB) – Após espetáculo Debate: Poetas e a terra
24/julho | Pernambuco (PE) - Patativa abraça Paulo Freire
25/julho | São José do Egito (PE) –Workshop de dramaturgia - Poeta e a leitura do mundo /  Local: Escola Naná Patriota
28/julho | Recife (PE) – Workshop de dramaturgia: Patativa e Paulo Freire – Lendo o mundo e lendo as palavras/ Local: Teatro Hermilo Borba
02/agosto | Alagoas (AL) - Patativa abraça Graciliano Ramos 
03/agosto | Maceió (AL) – Workshop de dramaturgia
07/agosto | Palmeira dos Índios (AL) – Workshop de dramaturgia: Um mundo cheio de Preás – literatura e engajamento político.
10/agosto | Canudos (BA) – Workshop de dramaturgia: Canudos e Caldeirão - Antônio Conselheiro e Beato José Lourenço
14/agosto | Salvador (BA) - Workshop de dramaturgia
20/agosto | Belo Horizonte (MG) - Patativa abraça Guimarães - Workshop de dramaturgia
24/agosto | Cordisburgo (MG) - Workshop de dramaturgia: Sertão real e sertão metafísico
03/setembro | Rio de Janeiro (RJ) - Patativa abraça Euclides da Cunha: Workshop de dramaturgia Migrações

VÍDEOS



REALIZAÇÃO

A circulação nacional do “Concerto de Ispinho e Fulô – Patativa do Assaré: um abraço e um bordado” conta com a coordenação geral das empresas EmCartaz Empreendimentos Culturais e Spiral Criativa, ambas do Rio de Janeiro e integrantes da Incubadora Rio Criativo.


FICHA TÉCNICA

Direção Rogério Tarifa
Direção Musical William Guedes
Dramaturgia Cia do Tijolo
Supervisão Dramatúrgica Iná Camargo
Atores Dinho Lima Flor, Fabiana Barbosa, Rodrigo Mercadante, Karen Menatti, Thaís Pimpão
Atriz convidada Cris Raséc
Músicos Jonathan Silva, Aloísio Oliver, Maurício Damasceno
Músico convidado Anderson Areias, Marcos Coin
Composições Jonathan SilvaDinho Lima Flor
Figurino e Cenografia Silvana Marcondes e Cia do Tijolo
Consciência Corporal Érika Moura
Coreografia Jorge Garcia
Iluminação Fábio Retti
Comunicação Visual Fábio Viana
Edição de material gráfico Fernando Alax
Fotografia e Cenotecnia Alécio Cézar
Assessoria de Imprensa Breno Procópio – Diversa Cultural
Produção e Realização Cia do Tijolo, EmCartaz Empreendimentos Culturais e Spiral Criativa
Gestão e administração EmCartaz Empreendimentos Culturais e Spiral Criativa

APRESENTA







AGRADECIMENTOS

Gostaríamos de agradecer em nome da Spiral e EmCartaz pelo apoio e credibilidade de todas as pessoas da Cia do Tijolo pela parceria, não só da equipe, mas de familiares e amigos, parceiros de trabalho e fornecedores, que apoiaram direta e indiretamente esse grandioso circuito tornando viável a difusão da arte, poesia, teatro e música por esse “mundo” do nosso Brasil!

Nosso muito, muito obrigado em especial as amigas e parceiras envolvidas no suporte desse projeto; Fabíola Buzim e Samara Martins, aos queridos e sempre parceiros Fernando Alax, Mário Pragmacio, Hilário Fonseca, Gyl Giffony, Ivina Passos, Monique Cardoso e Duda Lemos, ao parceiro Sidney Malveira do Teatro Novo, Guilherme Sampaio, Dane de Jade, Pedro Domingues e Selma Santiago, Nanego Lira e Ângela Fernandes, Renata Mora, Edilson Alves e Bruna Lessa.

Agradecimentos aos amigos e parceiros investidores desse Projeto até hoje no www.catarse.me/ciadotijolo.

Muito, muito obrigada Raquel Oliveira, Theresa Dalme, José Guilherme Pereira Leite, Leonardo S. B. e Ana Carolina S. A., Giuliana Cerchiari, Sandra Ranuzia Almeida de Morais, Eugênia Maria Silveira Rodrigues, Guilherme Gomes Cavalcante Ferreira, Selma Bustamante, Jorge Filó, Carlos Café, Renato, Estevão Marcos Armada Firmino,Daniela Ferraz, Eugênia Maria Silveira Rodrigues, Daniela Kuperman, Celia Regina Barboza Ramos, Laiza Menegassi, Lucas Mauro, Cassia Sandoval, Adriano Maranhão, Doralice, Marcos Felipe de Oliveira, Iara Veloso Mansur de Castr, Ana Luiza Lima, Laurent Tran, Laila Miranda Garin, Cibele, Cristina Maria Coin de carvalho, Camila Oliveira, Claudia Godinho Peria, Juliane Andrade Silva, Ulysses Moreira Formiga, Jurema Souza Dias, Lindalva Souza, Marco Felipe Castro da Silva, Leandro Beserra Avila, Kátia Arruda, Paula Sergipense Oliveira, Urias Vasconcelos, Guilherme Dearo, Gisele Cova dos Santos Rodrigues, Geovana Patricio, Maria de Fátima Castro da Silva, Isis Akagi, Cecília Mogadouro Franco, Inês Fabres Robaina, Camila Rocha de Lima, Luana Guidorzi Gurther, Cris Tiane, Jamile Rai Gonçalves, Luciana Alvares, Juli Codognotto, Augusto Valente, João Luís Sampaio Olímpio, Sylvinha Zonari, Herácliton Caleb, Claudia Guazzelli Charoux, Paola Schechtmann, Jacinta Teixeira, Katia Affonso Manfredi, Roberto Mello da Costa Pinto,Silvia Regina Klenk Serra, Douglas Fernandes de Souza,Carolina Santos Taqueda, Ariane Martins, Robson Silva da Silva, Fabiola da Silva Buzim, Luiza Teixeira de Almeida, Hugo Adrião, Samara Martins, Thopson Dias Loiola, Thércio Assunção Gomes Leite, Letícia Carneiro da Silva, Adilza Cristina!!!

 Quem ainda quiser e puder colaborar ainda restam alguns dias é só clicar no link e escolher a contribuição que se adequa ao seu perfil: www.catarse.me/ciadotijolo


sexta-feira, 3 de julho de 2015

Talvez tudo comece antes mesmo de começar




E sob o bucho aberto do céu em prantos saímos da cidade de São Paulo rumo a Paulo Afonso, Bahia. Começou antes de começar. Porque semana passada numa pausa de lanche de camarim regado a pinhão e sanduíche de queijo, tentávamos dividir as expectativas da estrada com o "Concerto de Ispinho e Fulô". Na ocasião apresentávamos o "Cante lá que eu canto cá" no Centro de Formação da Cidade Tiradentes. E lá mesmo começou. Não porque fazíamos o show mas também por isso. Para abrir a estrada e receber o batismo da cantoria, descobrimos partilhar a salinha que nos acolhia com dois músicos: um zabumbeiro de Palmeira dos Índios, terra de Graciliano Ramos e sua Baleia, chão que iremos pisar; e um cantador, cordelista  e violeiro de Pernambuco. Cantador que teve autorizado de próprio Patativa do Assaré o direito de musicar seu poema "A terra é nossa" e ainda incrementar com versos autorais, parido de sua alma nordestina. Ali mesmo ele cantou. Ali mesmo ele tocou:  

"Se a terra foi Deus quem fez
E é obra da criação
Deve cada camponês
Ter sua faixa de chão".

E sentimos que essa nova etapa, nossa Residência Pelo Mundo do Brasil estava inaugurada pela poesia dos bons encontros. E cá estamos em Paulo Afonso, na chegança com aroma de chuva e vista do Velho Chico. E talvez tudo comece antes mesmo de começar porque ainda não estamos no circuito do Concerto. Estamos aqui para brincar de outra brincadeira. Pra brincar de "Cante lá" e de "Ledores no Breu". E também de encontros, de oficinas, de caminhada.

E hoje embaixo de uma árvore respiramos o ar puro e aconchegante desse nordeste que iremos acompanhar durante quase dois meses. Vagens penduradas sobre nossas cabeças.  Nossas cabeças ainda atordoadas da viagem inciada lá pelas seis da manhã. Pequeninas folhas, gravetinhos e sementes  insistiam em temperar nosso almoço tardio. Teto verde, grávido. Bonita árvore. Bonita chegada.






"Deus fez a grande natura
com tudo quanto ela tem
Mas Deus não passou
a escritura da terra pra ninguém."









Nosso bordado maior, com o "Concerto de Ispinho e Fulô" terá início na próxima semana, em Fortaleza, no estado de Seu Patativa.  Por enquanto seguimos aqui sempre (re) começando.

Ah! Aqui embaixo está o link do catarse para os parceiros que possam nos ajudar. E claro, agradecemos!

 https://www.catarse.me/pt/ciadotijolo


Karen Menatti