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sexta-feira, 29 de junho de 2012



Texto enviado por Mykelle Maya, lá da querida Vitória da Conquista, Bahia.
Que bom que o teatro proporciona o encontro e a troca!
Nós agradecemos, Mykelle!  


Ao Patativa do Assaré, em Cordel.


Patativa em minha cidade, só crendo pra ir ver.
Aquele homi não sai de onde está, ainda mais sem caminhar.

Mas lá estava, óculos escuros e o chapéu de palha
A bengala e a patativa, posada no galho a cantar.

Quem é que acredita, o homi morreu mais voltou.
Num bastasse, inda por cima, deixou seu interiô.

Ou melhor, trouxe nas costas.
Nas entrelinhas de suas respostas, nas rugas do teu suor.
Falando pra quem tava lá.


Tinha o cheiro e o gosto da feira.
O cansaço e a curva da enxada.

Não sou besta, mas posso dar risada.
Não vivo triste, mas sou livre pra chorar.
O poeta e suas histórias pra narrar.


Imagina o Brasil, sua voz e sua gente.
O coro das patativas, das araras e das serpentes.

Entoando canções, todos juntos de uma vez.
Cada um no seu lugar, estando onde queria estar.

Cada um no seu lugar, cada qual com o seu par.
Cada um com seu pedaço e sua singela inspiração.

Patativa do Assaré, pra ir te ver no teatro.
Eu prefiro andar a pé, pra botar meus pés no chão.

Um grande acontecimento desses. Patativa na minha cidade.
Só... sentindo pra crer.

Pois se existe de verdade, uma coisa sem sentido.
Essa coisa e falar e não sentir o que esta dito.

Pra ir ver Patativa eu vou a pé, decidido.
Boina na cabeça, gravadorzinho na mão.
E a vida rodando no gravador.

Bonito é olhar as pessoas.
Esquecer se são belas ou feias.
Sem reparar se são homem ou mulher.

O Olhar que hipnotiza e um olhar hipnotizado.
Patativa em minha cidade.
É verdade.

Patativa do Assaré.
Teve flor e teve palma.
Teve café. Teve cachaça.
Teve alegria e teve desgraça.

Como toda vida se for bem movimentada.

Patativa do Assaré, melhor Memória não conheço.
Solto uns verso pra ti, que e pra ver se não esqueço.


Presença tua no mundo.
Erva santa e rara na mata cinza do sertão.
Cura até, doença de maldição.

Ao velho que acorda cedo, do moço que dorme tarde.
Poesia não tem idade. Não tem hora pra dormir.
E desperta até no sonho.

Me acompanha no trabalho.
Num incomoda, num atrapalha.
Faz é o tempo passar, mais depressa e mais bonito.

Até mesmo a hora da fome.
Meu coração quando escuta. Bate frouxo igual carroça.
Fica zunindo, choraminga. Igual passeio de murisoca, bem perto do travesseiro.

Mas numa cobra o que mais me intriga, não é o seu veneno homicida.
Mas a maldade contida na vontade de matar.

Lhe asseguro, onde dorme a coruja.
Venta forte, mas vento nenhum derruba.

Eu vivo diferente, mas cada um com o seu som.
Pedra no lago e suas ondas, bum ti blom...

Patativa que eu sei foi pro céu.
Meu poeta, cante lá que eu chego já.

Gravando pra ver se não esqueço.
O que agora penso e vou versando.
Gravando pra que ninguém esqueça.
Em cada um é como se brilhasse um estrela.
E que uma ou outra brilha mais forte.

Como a estrela do sul, e a do norte.
Como um poeta num dia de sorte.

O relógio cerca o tempo.
Mas o relógio não é o tempo.
Quanto tempo passou, dentro do que o poesia te falou?